quarta-feira, 25 de junho de 2008

Monólogos

Ah...Nada como sentar num banquinho ensolarado depois de uma refeição (demasiadamente) farta. Gostoso também observar a fila quilométrica dos que aguardam sua vez, com suas expressões particulares e suas roupas esquisitas. Marcou-me muito um indivíduo que permanecia junto à multidão ordenada: era magro, barbudo, meio sujo, o chinelo era ralo. Coitado. Mantinha sempre a mesma expressão meio blasé.

O vento batia no rosto, entrava por entre a camiseta de manga comprida, refrescando minhas axilas; pobre delas, vivem sempre sufocadas, atordoadas por doses cavalares de desodorante. O cachorro tomando Sol despreocupadamente à minha frente me intrigava, trocávamos olhares disfarçados. Tentei um diálogo, gesticulando com a face. Nada feito, o cachorro nem se movia. Restava oferecer um alimento, tentei com o resto do lanche do intervalo horas atrás. Lombo canadense com queijo branco, se não me falta a memória. Finalmente consigo a atenção do animal, que, como já era de se esperar, separa o lombo canadense do pão integral com maestria e degusta o pedaço frio de carne embutida. Esboçava algo como um sorriso. Bobagem, era somente um pedaço de lombo por entre os dentes tortos. Feita a refeição muda-se para outra área, possivelmente para repetir o ritual.


Me demorei por mais alguns minutos, observando os transeuntes. Eis que reaparece o sujeito blasé, magro, barbudo, meio sujo, chinelo ralo. Desta vez parecia revigorado, descia a rampa com o copo de suco na mão, sorrindo. Por certo almoçara muito bem, pois o cardápio do dia contemplava arroz, feijão, lagarto ao molho madeira, batatas coradas, almeirão, pãezinhos e uma refrescante gelatina de limão.

Talvez aquele tenha sido o momento mais aguardado do dia para o sujeito blasé, magro, barbudo, meio sujo, chinelo ralo. O momento em que ele entrega o tíquete, passa na catraca, pega uma bandeja, deseja bom dia aos funcionários, agradece pelas generosas porções de alimento, senta e come com dignidade, na mesma mesa que um aluno de engenharia, um professor de anatomia, um esportista. O momento em que ele vive como todo nós, com todos nós, ao menos durante os efêmeros minutos de um almoço.

Viva o bandejão.