Não escrevo nestas páginas há muito tempo. É verdade, estive um tanto ausente. Mas deixemos os arrependimentos e os choramingos de lado. Abster-me-ei, portanto, das introduções maçantes, ainda que a contragosto.
"Com a maior das honras" é a tradução da expressão latina que dá nome a esse texto. É essa a honraria que expressa o reconhecimento por obter a mais alta qualificação possível em uma titulação acadêmica. Seu uso não é muito difundido por estas terras, ficando restrito ao círculo anglo-saxão da humanidade.
Lembro-me de quando ganhava o "Parabéns" da professora do ensino fundamental. O esforço não era de todo desgastante, bastava caprichar um pouco na letra, evitar as rasuras...convinha também o truque da maçã e da política do bom samaritano, a fim de mostrar maturidade precoce.
Na universidade, entretanto, os métodos escusos de promoção intelectual parecem ter seu escopo de ação duramente limitado.
O reconhecimento vem.
De fato.
Mas apenas àqueles que realmente o fazem por merecer.
"Summa cum Laude" é algo que não terei no diploma, em absoluto.
Talvez, quem saiba, por obra do destino, ou de algum mal-entendido proposital, saia com alguma singela honraria. Mas duvido que, se vier, venha em latim. Oh, que pena...
A questão central, já um tanto batida, convenhamos, se dá em torno da responsabilidade inerente ao fato de estar numa universidade pública. Não pelo fato de todos pagarmos os impostos que sustentam o funcionamento da instituição (afinal, pagamos também os garis que limpam as ruas, mas a responsabilidade por jogarmos lixo em vias públicas parece ser bem menor, senão quase inexistente), mas pelo fato de haver uma fila enorme de indivíduos potencialmente melhores e pelo próprio papel da Universidade na sociedade.
(Agora, se eu entrei e eles não é ponto para outra discussão. O vestibular não tem como critério a responsabilidade e o comprometimento com a melhoria da Universidade Pública. Ele é do jeito que é, conteudísta e técnico. E não estou fazendo juízo de valor, nem dizendo que tenho coisa melhor a propor.)
Veja...Vivenciar o ambiente da Academia deveria ser um dos períodos mais frutíferos da vida de um jovem que se propõe a estudar a ciência, em suas diferentes vertentes. Poder trocar idéias com os docentes é algo maravilhoso. São todos doutores, muitos obtiveram o título em instituições européias e norte-americanas.
O ambiente acadêmico não deveria ser então efervescente?! Vivo?! Numa constante ebulição de novo conhecimento e de discussão dos problemas mundanos e soluções para esses problemas?!
Ahn...talvez no plano dos idealistas essa coisa toda funcione.
Assim como o "Summa cum Laude" parece cada vez mais distante do meu diploma, a Academia tal como descrita acima parece cada vez mais irreal. De antemão digo que essa é a minha experiência, no âmbito específico da faculdade em que estudo e do curso que faço. Nâo se trata de uma digressão a nível macro.
Tem-se de um lado, uma grande maioria de estudantes (excluem-se alguns poucos que realmente fazem jus ao título, por diversas razões) cuja preocupação principal é conseguir a aprovação nas disciplinas que se propuseram a cursar. A escolha destas, ademais, é baseada no critério da "aprovabilidade" e do quanto ela pode contribuir para a manutenção de uma média ponderada em níveis não vergonhosos. Poucos são os que cursam uma disciplina única e simplesmente em função do interesse despertado pelo programa.
Do outro lado, tem-se um grande número de docentes cuja preocupação principal é a manutenção e expansão de sua produção científica. Prezam, também, pela boa reputação no Departamento e pela estabilidade do vínculo empregatício com a instituição. Nesse sentido, mostram pouco interesse e motivação para com a graduação, "facilitando" o acesso do aluno à disciplina que leciona.
Firma-se então o chamado "pacto da mediocridade", onde o aluno, sob o manto da "aprovabilidade" e da manutenção de sua média ponderada em níveis pífios, aceita e adota uma postura conivente com um docente que dá uma aula de baixa qualidade, com um baixo nível de exigência.
A fim de facilitar a vida, ambos firmam o pacto informal, de modo a prosseguir com as demais atividades do dia-a-dia de forma tranquila.
Ora, isso é lamentável, sem dúvida. Entretanto, pouco se faz para mudar esse quadro, o custo seria alto demais.
É comum ver a gente discursar sobre a qualidade do ensino no país, da pouca vontade política do governo em adotar políticas educacionais mais sólidas...mas poucos olham para o próprio quintal.
Uma vez mais, me enquadro em minhas próprias críticas, mas pouco ajo no sentido de buscar soluções.
Aproveito para expressar meus votos de estima aos que merecem o "Summa cum Laude" em seus diplomas.