Como de costume, há muito tempo não escrevo aqui. A frequência de minha escrita parece reduzir-se exponencialmente, de tal sorte que não me surpreenderia se só voltasse a escrever em algum domingo de setembro, nono mês de nosso calendário gregoriano.
Lembrando a mim mesmo de que estamos no sexto mês - colocar as coisas em termos numéricos pode ser de grande valia quando o que se quer é causar algum impacto.
Em verdade, já não tenho mais clara a definição do que este blog atualmente é. Talvez nunca tenha sido nada per se, um modismo, um pretenso objeto de qualificação egoística. Algo como "oh, sim, eu escrevo".
O leitor logicamente sabe não tratar-se de nada disso, creio. Eu também devo, apesar do cansativo apelo vitimista, reconhecer que o blog tem sim uma importância que não deve ser desprezada. Uma grande importância eu diria.
E de que decorre essa recente perda de clareza, de sentido? Ao me fazer essa pergunta, se torna inevitável a analogia a outros aspectos da vida. Coisas corriqueiras como o ato de acordar, de adentrar a algum veículo de transporte público, de almoçar num canto qualquer...
Estou cá na metade da graduação, no início de um estágio, às vésperas de uma mudança de residência. O que tinha de ser está sendo. O caminho que visualizava no passado está se concretizando no presente. Sem dúvidas, isso é ótimo!
Entretanto, não consigo deixar de matutar o por quê de minha imagem no espelho estar mais embaçada do que a de tempos passados. Saber a razão de fazer o que faço sempre me deu sustentação para olhar à frente, e não para os lados, para trás ou para baixo. Mudanças de rotina costumam trazer tais reflexões à tona. A percepção de que vivo uma "vida nova" carrega consigo alguma angústia.
Recentes encontros com pessoas novas tem chamado minha atenção para essa questão. Saber quem eu sou é fundamental para ser quem eu quero ser, para fazer o que eu quero fazer, para chegar aonde pretendo chegar. E essa certeza, esse enraizamento, deve partir de dentro do indivíduo, para depois voltar a ele sob a forma de resultado, de conquistas concretas.
É comum atrelarmos nossa condição a condição dos outros. É comum atribuirmos a outras pessoas, a fatores externos a nós, as razões para sermos o que somos e o que podemos ser. Devemos grande parte disso ao comodismo, ao vitimismo, ao medo.
Em meio a lanches, cafés e bolinhos com açúcar e canela, numa conversa despretenciosa, mas objetiva, vi que aquela definição de vida e certeza que tinha anos atrás estavam mais perto de mim do que imaginava. Como se as tivesse guardado nos bolsos, subitamente as redescobri.
"Acorde pra vida! Não seja um 'quase'!"- dizia a mãe, como se chacoalhasse cada um de nós.
Palavras simples e objetivas, sem meias voltas, sem enrolação. Palavras tão simples que por pouco não me despertaram a noção de que as havia perdido.
As responsabilidades ao longo da vida crescem em número e em natureza. Se tornam mais complexas, com implicações mais pesadas, mais hostis. Poucos são os que não se confundem em algum momento de suas vidas, seja essa confusão grande ou pequena. Mas temos os meios para nos encontrarmos novamente, para tomar a direção de nossas vontades, de nossas ambições, e dar-lhes corpo, concretude.
Todos temos ambições, em maior ou menor grau, saudáveis ou dotadas de certa dose de sociopatia. As saudáveis devemos, sim, buscar. Faremos, dessa forma, melhor de nossas vidas e, consequentemente, melhor à vida dos que nos rodeiam.
Resmunguei acima algo como "percepção de uma 'vida nova'". Pensando melhor, prefiro uma outra percepção, a de que não se trata de uma "vida nova", mas sim de um degrau de uma mesma vida, um momento de uma trajetória maior, parte de mim, que sempre carregarei.
Me livro assim, em certa medida, da coisa do "recomeço", do "apagar o antigo", da periodização. Ora, grande besteira. Jamais podemos apagar o que fizemos. A vida, enquanto estivermos aqui, é uma só. Vamos, portanto, fazer dela o melhor que pudermos e enquanto pudermos.
Tenho os meios e os motivos para fazer de minha estadia aqui algo grande e proveitoso. Mãos à obra!
Como diria o grego Sócrates, "conheça-te a ti mesmo".