Por fora o lugar parecia feio, constava apenas o letreiro eletrônico indicando o andamento da festa. A fachada era crua e preta, o que, creio eu, deve-se à recente legislação promulgada na cidade de São Paulo. Nada como a iluminação pra dar outros ares ao ambiente interno, visto que a arquitetura do lugar era bastante simples (exceção feita ao mezanino, oportunidade perfeita para algum ato desesperado).
Pego o primeiro drinque. O whisky com energético estaria bom, não fosse o exagero de gelo que era colocado. Custo a acabar a bebida, que, por sua vez, não cumpriu o papel que cabe a qualquer bebida numa casa cheia de adolescentes dispostos a fazer aquilo que dizem fazer o tempo todo.
Decido dar um tempo para beber outra coisa. É humilhante dizer mas o divertimento fica dependente de umas doses de álcool. Os amigos que chegaram comigo já não se encontravam mais em minha companhia, me vi só num mar de gente.
Uma coisa interessante de baladas remete a esse aspecto. Talvez minta, mas creio que passo metade da balada andando por entre as pessoas. E ando por vários motivos: por não ter outra coisa pra fazer; por esperar alguma garota na mesma situação; para ir ao banheiro; para encontrar algum amigo (que muitas vezes finge que não te vê e logo se esquiva evitando uma abordagem direta). Quando finalmente encontro alguém fico balançando meu corpo em movimentos toscos, ora olhando pra pessoa, ora bebericando o ar no meu copo vazio. A solidão é então inevitável, como se o tempo não passasse. Para fingir ação, comento que vou ao bar providenciar alguma bebida.
As baladas “comuns” são nada mais que uma tentativa de preencher expectativas minhas para com uma vida mais “viva”. Tentar conhecer pessoas que sempre tive vontade de conhecer, me aproximar daquela garota, ficar alegre e esquecer dos problemas... Todas as oportunidades estão lá. Seja lá por que razão, nenhum dos objetivos predefinidos é alcançado. O que de fato acontece é que fico cansado, frustrado e sujo.
Apesar de tudo o que disse acima, continuo a frequentar as baladas. Não consigo me livrar delas, a expectativa sempre supera a razão. Ao menos tenho a música, que, sempre em volumes estratosféricos, me inebria corpo e alma. Mas resigno-me, talvez no fundo eu goste de toda essa situação.
Concordo com uma amiga (por quem aliás nutro sentimentos de caráter mais íntimo e que me fez voltar pra casa contente na manhã seguinte, pelo simples fato de poder conversar com ela no caminho de volta desse mesmo evento que aqui relatado) que diz que prefere bares a baladas. Trata-se, mais uma vez, de uma questão de opinião. Ou talvez algo mais...
Um comentário:
Caro amigo, você não está sozinho quando sente aversão às baladas.
Creio que as "baladas" representam o oposto do que a maioria dos jovens pensam.
Um lugar quente, sem ventilação, com música alta, preenchido com fumaça de cigarros de pessoas que você nem conhece, grandes quantidade de álcool no corpo, noites inteiras sem dormir e um ambiente completamente impróprio para estreitar relações pessoais, sejam elas no campo da amizade ou no do amor.
Trata-se de um ambiente que impõe péssimas condições de saúde ao corpo e a mente, e que, como sociólogo, creio que contribua diretamente para com a destruição das relações humanas.
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