Surpresas costumam ser boas, mensageiras de tempos melhores. Mas os costumes mudam ao longo do tempo.
Eu, por exemplo, abandonei o costume de ser indiferente às minhas vontades. Agora, adotei o costume de preparar uma infusão de chá verde todos os dias, por volta das 20h.
Que coisa, não? Deve ser por isso que costumo dormir diferentemente do que dormia antes. Mas não estou surpreso.
Desacostumado a lidar com surpresas, me perdi ao me deparar com uma em tempos recentes. De uma vontade suprimida ressurgiu uma tormenta de expectativas e esperanças.
Sentir o que venho sentindo me intrigou. Racionalista que sou, procurei analisar a situação e buscar as suas razões. Incansavelmente, ponderei sobre o que poderia estar acontecendo. Mas os resultados foram pouco satisfatórios.
Por que é que estou assim? O que é essa insuportavelmente constante vontade?
Trata-se, como o leitor decerto pôde depreender, de uma garota. Sim.
A priori, essa constatação pode criar a falsa impressão de se tratar de um texto raso, sem conteúdo, fruto de desencontros sentimentais de um moleque de 20 anos - não que eu assuma que agora esteja escrevendo textos maduros.
Entretando, espero que a constatação posterior contradiga o que lhes trouxe essa primeira impressão.
Pois bem.
Veja.
...
A coisa aqui vai além dos títulos. Não me importa se vão dizer que estamos "ficando" ou "namorando". Não me importa se vamos nos dar anéis, se vamos nos dar presentes no 12 de junho, se vamos nos abraçar, nos beijar. Trata-se de algo maior, algo que não sentia há sei lá quanto tempo.
É como se fosse uma mistura de respeito, cumplicidade, companheirismo e segurança. Não há descrições. O que ocorre é que simplesmente ficar perto dela me faz bem. E é um bem indescritível, como se mais nada fosse necessário, como se mais nada realmente importasse.
Por que é com ela não sei. Mas ela é diferente das outras, e as outras são diferentes dela.
Em suma, é como se a forma que essa relação assumir fosse irrelevante. Como se eu estivesse concentrado num ideal, numa situação até certo modo hipotética, num sentido último que não esse que conhecemos por relação entre homem e mulher. Como se o que bastasse fosse dela um sorriso e um olhar, na certeza de que ela está bem e em paz.
Mas, se ela é o centro do sentimento, por que esse desejo de que ela sinta a mesma coisa? Contradição? Incoerência?
Se é recíproco ou não, quem sabe? Até que ponto o que cada um quer é o que cada um pode dar? Até que ponto o que cada um pode dar é o que cada um quer? E até que ponto a idéia do que cada um pode dar ou quer faz algum sentido? Essas perguntas se tornam um tanto perturbadoras, são barreiras que construí dentro dos meus próprios pensamentos, como se quisesse me convencer que não fosse dar certo.
Mas aos poucos me acostumo com a idéia de que o que eu quero e o que ela pode dar é irrelevante perto do possível fato de estarmos juntos.
Creio que é mais um texto de temática existencialista, apesar da roupagem aparentemente infantil. No fundo, talvez eu busque um sentido pra toda essa mecanicidade que dirige minha vida diária. Um sentido que acredito ter encontrado na figura de uma garota, figura esta afísica, quase metafísica.
Se não der certo, volto à busca inconsciente pelo sentido, que faço desde que nasci. Busca essa presente em cada ser humano, que, entre encontros e desencontros, vão vivendo, sobrevivendo e subvivendo.
domingo, 26 de abril de 2009
sábado, 11 de abril de 2009
Contradições e incoerências
Existencialismo tem sido objeto recorrente em meus textos. Uns falam de sentido da vida, outros de sentido dos outros. Quase sempre me coloco no centro dos fatos, como se fossem condicionados à minha própria existência e interpretação.
Enxergar do outro lado da janela se apresenta como tarefa hercúlea, decorrente do meu próprio ego, um exercício de falsa humanidade. Finjo que enxergo através do vidro, que compreendo o movimento das folhas no campo mais à frente. E como isso me satisfaço, me isento de maiores responsabilidades e preocupações.
Como tomar ciência de meus fantasmas? Como encarar os medos e angústias? Como lidar com minhas preocupações e expectativas? "Navegar é preciso", diria um sábio homem. Navegar é preciso...
Estudar economia pode ser por vezes muito perturbador. Há matérias como "Formação Econômica e Social do Brasil", "Economia Brasileira Contemporânea", tópicos como "Teoria do Subdesenvolvimento", "Desigualdade de Renda e Pobreza", entre tantos outros de nomes opulentos e imponentes. A perturbação decorre não da dificuldade existente, mas sim da carga de responsabilidade que essas matérias trazem no nome.
O que cabe ao estudante que opta por estudar o subdesenvolvimento e a pobreza? Entendê-los? Elaborar teses e artigos sobre as razões da baixa produtividade da economia somaliana? Teses essas acessíveis apenas à comunidade acadêmica, dada sua linguagem e caráter elitista?
As limitações à ação e os horizontes de mudança parecem muito distantes, muito pouco paupáveis. Chegam a ser desanimadores.
Diante desse quadro, rio da minha própria postura.
Por mais que me interesse pela "formação econômica e social do Brasil", minha preocupação depois da aula é com a composição do meu almoço, cuja delonga não pode ultrapassar 25 minutos. Depois tenho francês, e o ônibus demora um bocado. "Não posso me atrasar", é a conclusão que tiro.
Isso quando não há festas. É nelas que nego tudo aquilo que me propus a ser. É nelas que afirmo e reafirmo a minha futilidade, a minha mediocridade.
Claro que é impossível se comportar da mesma maneira sempre, mas isso não invalida a auto-cobrança.
Já participei de projetos sociais, de iniciativas de ONGs e coisas afins. O resultado foi sempre o mesmo. Vou, faço o que me é passado pra fazer, me sensibilizo com a situação, me despeço das pessoas e volto à minha vidinha onde tudo se encaixa.
A comparação entre as realidades que se vivencia é inevitável. Durante algumas semanas após os trabalhos sociais, eu não conseguia jogar comida fora, jogar lixo no chão ou reclamar com minha mãe por ter arroz e feijão no almoço de novo. Passados alguns meses meu comportamento vai contradizendo as coisas que vivenciei.
Não que eu não tenha realmente mudado em alguns aspectos, mas ainda sim...
E pior! Eu volto dessas experiências achando que "ah! Agora compreendo o mundo!".
Não! Eu não compreendo o mundo, eu não conheço o mundo. E não é fazendo matérias como "Formação blá, blá, blá" que eu vou entender o Brasil e poder tirar conclusões sobre ele.
Sou um poço, ou melhor, sou uma vala de contradições e incoerências. Discurso e ação se confundem e perdem o sentido. Meus voláteis ideais são engolidos pelos meus desejos imediatistas. E a concorrência é totalmente desleal.
Até onde vai minha "consciência social"?
Até onde vai minha "intelectualidade"?
Até onde vai minha "compreensão da realidade"?
Até onde vai minha "ação individual"?
São mais exercícios egoístas.
É mais do mesmo.
Enxergar do outro lado da janela se apresenta como tarefa hercúlea, decorrente do meu próprio ego, um exercício de falsa humanidade. Finjo que enxergo através do vidro, que compreendo o movimento das folhas no campo mais à frente. E como isso me satisfaço, me isento de maiores responsabilidades e preocupações.
Como tomar ciência de meus fantasmas? Como encarar os medos e angústias? Como lidar com minhas preocupações e expectativas? "Navegar é preciso", diria um sábio homem. Navegar é preciso...
Estudar economia pode ser por vezes muito perturbador. Há matérias como "Formação Econômica e Social do Brasil", "Economia Brasileira Contemporânea", tópicos como "Teoria do Subdesenvolvimento", "Desigualdade de Renda e Pobreza", entre tantos outros de nomes opulentos e imponentes. A perturbação decorre não da dificuldade existente, mas sim da carga de responsabilidade que essas matérias trazem no nome.
O que cabe ao estudante que opta por estudar o subdesenvolvimento e a pobreza? Entendê-los? Elaborar teses e artigos sobre as razões da baixa produtividade da economia somaliana? Teses essas acessíveis apenas à comunidade acadêmica, dada sua linguagem e caráter elitista?
As limitações à ação e os horizontes de mudança parecem muito distantes, muito pouco paupáveis. Chegam a ser desanimadores.
Diante desse quadro, rio da minha própria postura.
Por mais que me interesse pela "formação econômica e social do Brasil", minha preocupação depois da aula é com a composição do meu almoço, cuja delonga não pode ultrapassar 25 minutos. Depois tenho francês, e o ônibus demora um bocado. "Não posso me atrasar", é a conclusão que tiro.
Isso quando não há festas. É nelas que nego tudo aquilo que me propus a ser. É nelas que afirmo e reafirmo a minha futilidade, a minha mediocridade.
Claro que é impossível se comportar da mesma maneira sempre, mas isso não invalida a auto-cobrança.
Já participei de projetos sociais, de iniciativas de ONGs e coisas afins. O resultado foi sempre o mesmo. Vou, faço o que me é passado pra fazer, me sensibilizo com a situação, me despeço das pessoas e volto à minha vidinha onde tudo se encaixa.
A comparação entre as realidades que se vivencia é inevitável. Durante algumas semanas após os trabalhos sociais, eu não conseguia jogar comida fora, jogar lixo no chão ou reclamar com minha mãe por ter arroz e feijão no almoço de novo. Passados alguns meses meu comportamento vai contradizendo as coisas que vivenciei.
Não que eu não tenha realmente mudado em alguns aspectos, mas ainda sim...
E pior! Eu volto dessas experiências achando que "ah! Agora compreendo o mundo!".
Não! Eu não compreendo o mundo, eu não conheço o mundo. E não é fazendo matérias como "Formação blá, blá, blá" que eu vou entender o Brasil e poder tirar conclusões sobre ele.
Até onde vai minha "consciência social"?
Até onde vai minha "intelectualidade"?
Até onde vai minha "compreensão da realidade"?
Até onde vai minha "ação individual"?
São mais exercícios egoístas.
É mais do mesmo.
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