sábado, 15 de agosto de 2009

Pesaroso

Acordei hoje arrependido. Um arrependimento agudo, fino como a ponta de uma agulha, daquelas que me aplicavam nas brancas nádegas há alguns anos atrás.
Calçar o chinelo de palha ao sair da cama, lavar o rosto na água gelada, engolir o café na xícara rachada. Tudo era lembrança. Tudo foi fotografia.

Revejo o passado, tentando entender o presente. Tolice, dizem. O que aconteceu não pode ser mudado, não pode ser apagado.
Quem sabe? As ações do homem podem transpor as barreiras do tempo, podem seguir a direção anti-horária; não contra, mas com os ponteiros do relógio, tal como o velho e sua sombra projetada na calçada.
A que recorrer quando falta a coragem de assumir o erro? Não há do que me desculpar, não há sentido em pedir perdão, mas parecem ser "me desculpe" as únicas palavras cabíveis à situaçao. Ao primeiro olhar certamente abaixaria a cabeça, num gesto multifacetado, de significado obscuro.
Estar adormecido na arte parece ser um bom título, um pouco mais leve, menos repressivo.

Diante da incerteza, tomo mais uma xícara de chá e me ponho a investigar os meios de fazer o contato novamente. Frações de tempo depois, me ocupo de outras canções. Até o dia em que acordar arrependido novamente, quando tudo será lembrança uma vez mais.
Sua flor é o descanso, a repousar na estante. Graças a ela, tenho todo dia a lembrança de seu sorriso e de suas mãos, que tão cuidadosa e suavemente fizeram do papel uma rosa.


"Da hipótese tiro a síntese, e da síntese tiro a antítese."

Um comentário:

Déia disse...

UAU! Pra variar, meu queixo está caído!
Vc é fantástico!

E pra mim, se nos arrependemos de algo, as desculpas são muito bem vindas, o conserto do erro também!
Assim nos livramos de um peso enorme, limpamos o que estava sujo, debaixo do tapete.. e podemos seguir dalí..

beijinhos