sábado, 12 de setembro de 2009

Pra quê?

Estive pensando em como fico abatido por pouco. Não se trata de uma questão da simples dicotomia entre alegria e tristeza, mas sim de um abatimento mais amplo, extra-pessoal.
Percebo isso em outras pessoas também. Algo como uma perda momentânea da vontade de viver.
Muitas vezes decorrente de causas tolas, poucas vezes de causas realmente relevantes.

A reflexão veio do que conversava com minha mãe dias atrás. Tomando o costumeiro café da tarde- que na ocasião acompanhou uma farta oferta de bolo de fubá- acabamos, em meio a comentários acerca da chuva torrencial da terça-feira última, estacionando no assunto citado no parágrafo anterior.
Ela me contava como havia ficado uma amiga sua após a morte de seu marido. Companheiros de longos anos, eram conhecidos de minha mãe da escola em que lecionavam. Após breve discurso das frustrações que envolvem a rotina de um professor, minha mãe me descrevia como estava sua amiga dias após o falecimento. Sendo o ofício do magistério o que é hoje, não é de se surpreender que as palavras da amiga de minha mãe tenham sido as seguintes.
"Pra quê? Pra quê, meu Deus? Passei tantos anos tentando mudar alguma coisa na cabeça daquelas crianças, enquanto podia ter dado mais atenção pro meu marido! Podia ter vivido mais ao lado dele!"

Buscar as razões para o que fazemos constituí, em geral, mais angústia do que alívio. À parte aqueles que parecem já ter nascido com seus objetivos de vida programados na cabeça, a grande maioria de nós sabe pouco ou muito pouco o por quê de estar nesse mundo e o por quê de fazer o que faz.
Nesse meio tempo de vida que tenho, me agarro firmemente às coisas que considero importantes. Um título, posses materiais, posses emocionais, certezas, dúvidas. Por não saber direito qual é o meu lugar aqui, faço das coisas à minha volta o meu lugar e, aos poucos, vou firmando as bases daquilo que chamo de normalidade. Vou me adequando para seguir o protocolo (in)determinado por fatores quaisquer.
"Pra quê? Pra quê, meu Deus?" parece sintetizar os momentos de abatimento, quando se olha pra trás e o que se vê são cinzas e poeira.
De fato, parece natural dizer que devo buscar mais momentos, mais faíscas no espaço, que representam coisas de maior importância, pra quando olhar pra trás, puder dizer "Valeu a pena!" e não "Pra quê?".
Há um outro lado que me diz para desconsiderar quaisquer razões, por que elas nunca serão encontradas. O que se deve fazer é apenas viver, buscando aquilo que naturalmente se quer buscar, sem nisso se apegar.

Ao pensar dessa forma, me isolo do mundo, subjugando todas as coisas à minha condição. É a expressão initerrupta da força do meu ego. Me coloco externamente às outras coisas, buscando nelas as razões para o meu descontentamento. Sempre achei muito falho, mas nunca consegui me livrar disso. E daí nasce a oscilação entre o alto e o baixo, onde tem sido difícil encontrar o equilíbrio.

6 comentários:

Dolle disse...

Gabriel!!
Mais uma vez, precisava realmente de alguma coisa pra ler que fizesse algum sentido, vim aqui e me deparei com o título do seu post! Fiquei tão feliz, porque era exatamente algo assim que eu tava procurando!
Adorei.

Milena disse...

Que texto lindo!! adorei...
Beijos e ótima terça-feira

Déia disse...

Gabriel,
Que todas essas coisas que vivemos, sirvam de lição. O mundo não pára, nossa vida não nos dá tempo para cuidar de cada parte devagar..
Tudo acontece ao mesmo tempo, na mesma hora.

Saber dividir a responsabilidade do trabalho e a afetividade com quem faz parte da sua família, é o segredo para não ficarmos em dívida!

Trabalhe, sim, é necessário, mas paseie, ame, declare-se, cuide-se...

Não se abale, mas construa um ser melhor em vc mesmo!
bj

MARIA SILVIA disse...

Tá melhorandooooooooo... hehehehehehe

Hiromiiii^^ disse...

Hey!
"Perda momentânea da vontade de viver..." acho que é normal se eses momentos forem poucos. E não temos que nos apegar aos momentos de quedas, mas de redescobrimento da vida, com um outro olhar, uma nova interpretação, uma melhor visão dessa trajetória que não há voltas.
E "Pra quê?"?! Não sei, mas me sinto bem ao focar nas coisas boas.

Beijão

Inaudita disse...

Bela reflexão... Tenho sensações e sentimentos (ou falta de) semelhnates com uma freqüência absurda...