Esse ano tem sido excepcional. Estamos ainda em maio e já fui convidado para duas festas de 15 anos. A proporção é maior agora do que era quando ainda tinha essa idade. Lembro que no colégio ser convidado para uma festa dessas era um símbolo de status. Era como ser reconhecido como conhecido da garota bonita que pertencia ao grupo descolado.
É interessante como os convites de festas de 15 anos são escritos, atribuindo ares de importância a todos os convidados. Há variações, mas que pouco se distanciam do padrão. "Nessa noite especial quero dividir minha felicidade com pessoas especiais, e você é uma delas".
Nunca me esqueci de um convite rosa que me deram, que tinha uma citação de Nietzsche. Meu amigo, 16 anos na época, leitor interessado dos pensadores da filosofia, bem observou: "Se ela entendesse Nietzsche, nem faria festa". Para aparentar intelectualidade, concordei silenciosamente com sua observação. Eu fingi entender de Nietzsche e ele fingiu ter acreditado em mim.
À parte os comentários maldosos durante a festa (seja acerca dos convidados, ou dos salgadinhos, ou de comportamentos isolados de crianças), momentos como esses são bastante especiais. O cerimonial engessado de uma festa de 15 anos, com uma série de regras e protocolos a seguir, leva os presentes a refletirem sobre o que têm feito de suas vidas. Os 15 casais que entram, a sessão de fotos da infância, a valsa com o pai, com o tio, com o avô e com o príncipe, e as homenagens que se seguem me induziram a pensar sobre o passado e sobre o futuro, sobre o que passou e sobre o que eu acho que vai passar.
Será que terei uma filha, para poder dançar uma valsa de 15 anos com ela?
Imediatamente me coloquei no lugar do pai, na sua felicidade de ver aquelas fotos de quando sua filha aprendeu a andar de bicicleta, de quando ela comia com babador, de quando ela ia na piscina de bolinhas.
E, súbita e estranhamente, toda aquela situação me provocou, ao mesmo tempo, alegria e tristeza. Alegria por aquela família, que vivia um momento feliz, livre de tensões e fardos. Tristeza por algo que falho em identificar, como um sentimento de que aquilo não fosse acontecer comigo.
Tenho pensado muito em família ultimamente, muito em companheirismo, compania (talvez as palavras de meu avô tenham realmente surtido algum efeito). Não sei exatamente o que se passa, nunca fui de querer dividir muito minhas idéias guardadas na cabeça, nunca fui de admitir que precisava de outras pessoas. Mas, de súbito, enxerguei o "outro" e nele vi a figura com quem desejo dividir aquilo que penso. Um "outro" ora distante, ora próximo, ora aberto, ora codificado, hermético, indecifrável. Dele pouco entendo, mas muito dele espero.
(...)
Acho que a importância do outro reside no fato de ser com ele que dividimos aquilo que desesperadamente desejamos dividir, aquilo que necessitamos dividir.
Dividir a dor, e não fazê-la cessar. Dividir a alegria, enquanto esta durar. Dividir o prazer do corpo e dele não ter vergonha. Dividir as angústias, as tristezas, as obrigações, os objetivos, as vitórias e as derrotas.
Dividir as expectativas. Dividir as vontades.
Dividindo, aquilo que é separado torna-se uno, absoluto.
domingo, 31 de maio de 2009
domingo, 24 de maio de 2009
O outro e sua importância
Pessoas vêm e vão em nossas vidas. Um bocado delas. Umas ficam, outras voltam, outras desaparecem.
Da maioria ficam somente lembranças, fotos de um tempo aparentemente distante. De uma outra parte, fica a expectativa do reencontro, temperada com as fantasias do que poderia ter sido e não foi. Essas costumam ser fonte de frustrações.
Poucas delas, muito poucas, transcendem a superficialidade. Tenho muitos conhecidos, mas conheço poucas pessoas. Fato.
A que devemos essa infeliz superficialidade nas relações humanas? Há quem diga que é a correria da sociedade moderna. Em direção totalmente oposta, há quem diga que é o caráter monótono da sociedade moderna.
Eu sinceramente não sei responder.
Seria por que atrelamos às pessoas que conhecemos alguma função social? Não faltaria considerarmos as pessoas pelas pessoas, pura e simplesmente?
Conhecer o padeiro, e não o João, o dono da banca, e não o Marcos, não restringiria a profundidade que essa relação poderia tomar?
Há alguns finais de semana atrás, questionei meu avô sobre essa questão enquanto pescávamos na beira de um rio. Era manhã, o tempo estava maravilhoso e a água calma. Bastante pragmático, me respondeu: "Ora meu filho, você conhece melhor as pessoas com quem passa a maior parte do seu tempo."
Indo mais a fundo, lhe perguntei: "Certo, mas o que é que determina quanto tempo passamos com cada pessoa?"
Nessa hora, veio a luz.
"Isso, só você tem a resposta. Pra mim, o que é essencial é a importância. Eu passo mais tempo com as pessoas que são importantes pra mim, que fazem com que eu me sinta bem, que fazem com que eu me sinta parte da vida delas também. Pra mim, essas pessoas são a nossa família. O resto é resto. Tem muita gente no mundo, muita gente que só quer passar por cima de você. Essas você evita, fala só oi e tchau. O importante mesmo é a família, Gabriel, é a família meu filho."
Maravilhado com a sabedoria do meu avô, de pronto concordei com o que disse. Seguiu-se um silêncio reflexivo, quebrado pelo barulho de uma tilápia que saía da água, presa sob o anzol de meu avô. Era o décimo que ele pegara. Eu dava apenas prejuízo com as iscas.
Seria então essa superficialidade mesmo infeliz? Não seria ela necessária, produto da organização social, inerente ao modo como vivemos?
As palavras de meu avô apontam nessa direção.
Realmente simpatizei com o critério que ele colocou. Atribuir importância às pessoas e, a partir disso, conhecê-las mais ou menos me parece bastante razoável. Aliás, é o que tenho feito inconscientemente até hoje.
A importância que essa ou aquela pessoa tem para mim é algo que é difícil de controlar, de qualificar, de quantificar. Aliás, mais difícil ainda é determinar do que nasce essa importância. Da convivência? Nem sempre. De atos "heróicos"? Pouco provável. De um olhar? Talvez.
Seria então entre essas pessoas que devemos construir nossas bases?
E quando a importância não é recíproca (se é que faz algum sentido ela ser recíproca)? Que se há de fazer então?
Lutar pela amizade e reconhecimento dessa pessoa, correndo-se o risco de superdosar? Ou simplesmente observá-la de longe, mantendo uma distância saudável?
Não seria o caso de adaptar os diversos "eus" que existem dentro de cada de nós, de modo a conviver pacificamente com o que está dado? Ou seria de caso de mudar o que está dado, de modo a satisfazer nossos "eus"?
Na próxima pescaria com meu avô tiro essa dúvida.
Ainda que seja criação artificial do eu, o outro tem sim importância. Será por isso que "o inferno são os outros"?
Da maioria ficam somente lembranças, fotos de um tempo aparentemente distante. De uma outra parte, fica a expectativa do reencontro, temperada com as fantasias do que poderia ter sido e não foi. Essas costumam ser fonte de frustrações.
Poucas delas, muito poucas, transcendem a superficialidade. Tenho muitos conhecidos, mas conheço poucas pessoas. Fato.
A que devemos essa infeliz superficialidade nas relações humanas? Há quem diga que é a correria da sociedade moderna. Em direção totalmente oposta, há quem diga que é o caráter monótono da sociedade moderna.
Eu sinceramente não sei responder.
Seria por que atrelamos às pessoas que conhecemos alguma função social? Não faltaria considerarmos as pessoas pelas pessoas, pura e simplesmente?
Conhecer o padeiro, e não o João, o dono da banca, e não o Marcos, não restringiria a profundidade que essa relação poderia tomar?
Há alguns finais de semana atrás, questionei meu avô sobre essa questão enquanto pescávamos na beira de um rio. Era manhã, o tempo estava maravilhoso e a água calma. Bastante pragmático, me respondeu: "Ora meu filho, você conhece melhor as pessoas com quem passa a maior parte do seu tempo."
Indo mais a fundo, lhe perguntei: "Certo, mas o que é que determina quanto tempo passamos com cada pessoa?"
Nessa hora, veio a luz.
"Isso, só você tem a resposta. Pra mim, o que é essencial é a importância. Eu passo mais tempo com as pessoas que são importantes pra mim, que fazem com que eu me sinta bem, que fazem com que eu me sinta parte da vida delas também. Pra mim, essas pessoas são a nossa família. O resto é resto. Tem muita gente no mundo, muita gente que só quer passar por cima de você. Essas você evita, fala só oi e tchau. O importante mesmo é a família, Gabriel, é a família meu filho."
Maravilhado com a sabedoria do meu avô, de pronto concordei com o que disse. Seguiu-se um silêncio reflexivo, quebrado pelo barulho de uma tilápia que saía da água, presa sob o anzol de meu avô. Era o décimo que ele pegara. Eu dava apenas prejuízo com as iscas.
Seria então essa superficialidade mesmo infeliz? Não seria ela necessária, produto da organização social, inerente ao modo como vivemos?
As palavras de meu avô apontam nessa direção.
Realmente simpatizei com o critério que ele colocou. Atribuir importância às pessoas e, a partir disso, conhecê-las mais ou menos me parece bastante razoável. Aliás, é o que tenho feito inconscientemente até hoje.
A importância que essa ou aquela pessoa tem para mim é algo que é difícil de controlar, de qualificar, de quantificar. Aliás, mais difícil ainda é determinar do que nasce essa importância. Da convivência? Nem sempre. De atos "heróicos"? Pouco provável. De um olhar? Talvez.
Seria então entre essas pessoas que devemos construir nossas bases?
E quando a importância não é recíproca (se é que faz algum sentido ela ser recíproca)? Que se há de fazer então?
Lutar pela amizade e reconhecimento dessa pessoa, correndo-se o risco de superdosar? Ou simplesmente observá-la de longe, mantendo uma distância saudável?
Não seria o caso de adaptar os diversos "eus" que existem dentro de cada de nós, de modo a conviver pacificamente com o que está dado? Ou seria de caso de mudar o que está dado, de modo a satisfazer nossos "eus"?
Na próxima pescaria com meu avô tiro essa dúvida.
Ainda que seja criação artificial do eu, o outro tem sim importância. Será por isso que "o inferno são os outros"?
quinta-feira, 14 de maio de 2009
A ela, um vago obrigado
O Dia das Mães passou, foi domingo último. Não escrevi nada, não pensei em escrever nada. Estava ocupado demais estudando macroeconomia. Faria uma prova na terça-feira pós-Dia das Mães.
Egoísta eu, não?
Me lembrei horas atrás de um episódio que ocorreu a mim e a minha mãe já há algum tempo. Tinha na época cinco ou seis anos, se não me falha a memória atordoada pela cafeína.
Estávamos nos arredores de uma chácara que meu pai comprara havia pouco tempo. Fazia Sol, era sábado e andávamos sob os pinheiros perto da represa.
Éramos na ocasião eu, ela, meus avós e meu primo. Não me lembro por que razão, eu e minha mãe nos distanciamos dos outros. Ela me contava como nasciam os pinheiros e porque eles ficavam tão grandes e fortes.
- "Mãe, por que os pinheiros ficam um do lado do outro?"
- "Ali filho, oh. Eles usam os pinheiros pra separar um sítio do outro, quem nem no nosso."
Minha memória conserva esse momento como um museu. Me lembro de cada detalhe.
- "Ah, mas por que não usa arame?"
- "Ah filho, com árvore fica mais bonito, né?"
Andando de mãos dadas com minha mãe, me sentia protegido. Fantasiava sobre qual seria o jantar aquela noite e sobre qual jogo de videogame jogaria com meu primo até 3h da madrugada.
Alguns minutos depois, uns bois que ficavam numa chácara das proximidades se espantaram com um caminhão. Os gordos animais passaram a correr assustados, a cerca estava aberta.
Minha mãe usava uma camiseta vermelha, daquelas promocionais (era da Ki-Suco, nos primórdios do suco de pozinho).
Minha avó se assustara, dizendo pra minha mãe sair de lá, por que os bois não gostavam da cor vermelha. Não deu outra, minha mãe ficou ali parada, sem saber o que fazer. Um dos bois começou a ir em sua direção.
Lembrando dos desenhos animados que assistia com frequência, empunhei um galho e passei a correr atrás do boi, gritando pra ele sair.
Provavelmente o objetivo do boi não era chegar à camiseta vermelha da Ki-Suco, provavelmente aquela era só mais uma das rotas aleatórias que eles estavam tomando.
Não importa. Ao expulsar o boi, fui conclamado o herói do dia. Minha mãe bradava para meus avós que eu havia salvado ela, que eu era bravo e corajoso.
Nunca me esqueci desse dia. Na noite que se seguira, ao subir numa árvore, escorreguei e bati o braço num espinhal. Bastaram alguns ferimentos leves pra eu me derrubar num choro irritante. Quem veio me acalmar?
- "Calma filho, não foi nada."
- "Não mãe! Tá doendo!"
- "Ah, que nada. Você me salvou do touro e tá chorando por um cortezinho desses?"
- "...", esbocei nessa hora um sorriso. "Que tem pra jantar?"
- "Sua vó fez bife com purê!"
- "Ebaaa! Depois tem doce de leite né? O pai falou que comprou!"
Lembro daqueles tempos como se fosse hoje. Felizmente, minha família se mantém firme, resistente às nuances e buracos que o tempo vai cravando.
Ver que cheguei aonde cheguei e olhar para o que passou me traz sempre a certeza de que à minha mãe devo mais do que um simples "Obrigado" e um "Feliz Dia das Mães" todo primeiro domingo de maio.
Assumir a tarefa (ou melhor, a bênção, como diria alguém especial) de criar um filho, vida da sua vida, sangue do seu sangue, não é para qualquer um.
Nunca serei mãe, mas espero poder partilhar com alguém essa bênção de ter um filho e poder fazer parte da vida dele.
À minha mãe, fica um abraço e um muito obrigado. Espero um dia poder retribuir tudo o que fez por mim e ter a certeza de que, no dia em que não mais estiver fisicamente presente entre nós, tenha ido em paz.
Egoísta eu, não?
Me lembrei horas atrás de um episódio que ocorreu a mim e a minha mãe já há algum tempo. Tinha na época cinco ou seis anos, se não me falha a memória atordoada pela cafeína.
Estávamos nos arredores de uma chácara que meu pai comprara havia pouco tempo. Fazia Sol, era sábado e andávamos sob os pinheiros perto da represa.
Éramos na ocasião eu, ela, meus avós e meu primo. Não me lembro por que razão, eu e minha mãe nos distanciamos dos outros. Ela me contava como nasciam os pinheiros e porque eles ficavam tão grandes e fortes.
- "Mãe, por que os pinheiros ficam um do lado do outro?"
- "Ali filho, oh. Eles usam os pinheiros pra separar um sítio do outro, quem nem no nosso."
Minha memória conserva esse momento como um museu. Me lembro de cada detalhe.
- "Ah, mas por que não usa arame?"
- "Ah filho, com árvore fica mais bonito, né?"
Andando de mãos dadas com minha mãe, me sentia protegido. Fantasiava sobre qual seria o jantar aquela noite e sobre qual jogo de videogame jogaria com meu primo até 3h da madrugada.
Alguns minutos depois, uns bois que ficavam numa chácara das proximidades se espantaram com um caminhão. Os gordos animais passaram a correr assustados, a cerca estava aberta.
Minha mãe usava uma camiseta vermelha, daquelas promocionais (era da Ki-Suco, nos primórdios do suco de pozinho).
Minha avó se assustara, dizendo pra minha mãe sair de lá, por que os bois não gostavam da cor vermelha. Não deu outra, minha mãe ficou ali parada, sem saber o que fazer. Um dos bois começou a ir em sua direção.
Lembrando dos desenhos animados que assistia com frequência, empunhei um galho e passei a correr atrás do boi, gritando pra ele sair.
Provavelmente o objetivo do boi não era chegar à camiseta vermelha da Ki-Suco, provavelmente aquela era só mais uma das rotas aleatórias que eles estavam tomando.
Não importa. Ao expulsar o boi, fui conclamado o herói do dia. Minha mãe bradava para meus avós que eu havia salvado ela, que eu era bravo e corajoso.
Nunca me esqueci desse dia. Na noite que se seguira, ao subir numa árvore, escorreguei e bati o braço num espinhal. Bastaram alguns ferimentos leves pra eu me derrubar num choro irritante. Quem veio me acalmar?
- "Calma filho, não foi nada."
- "Não mãe! Tá doendo!"
- "Ah, que nada. Você me salvou do touro e tá chorando por um cortezinho desses?"
- "...", esbocei nessa hora um sorriso. "Que tem pra jantar?"
- "Sua vó fez bife com purê!"
- "Ebaaa! Depois tem doce de leite né? O pai falou que comprou!"
Lembro daqueles tempos como se fosse hoje. Felizmente, minha família se mantém firme, resistente às nuances e buracos que o tempo vai cravando.
Ver que cheguei aonde cheguei e olhar para o que passou me traz sempre a certeza de que à minha mãe devo mais do que um simples "Obrigado" e um "Feliz Dia das Mães" todo primeiro domingo de maio.
Assumir a tarefa (ou melhor, a bênção, como diria alguém especial) de criar um filho, vida da sua vida, sangue do seu sangue, não é para qualquer um.
Nunca serei mãe, mas espero poder partilhar com alguém essa bênção de ter um filho e poder fazer parte da vida dele.
À minha mãe, fica um abraço e um muito obrigado. Espero um dia poder retribuir tudo o que fez por mim e ter a certeza de que, no dia em que não mais estiver fisicamente presente entre nós, tenha ido em paz.
segunda-feira, 4 de maio de 2009
Entre jornais e nescafés
Hoje, enquanto saboreava meu tradicional nescafé com leite, assistia despretenciosamente ao Jornal da Record. Como de costume, me aloquei no canto mais confortável do sofá, tomando o devido cuidado para manter os pés sob as almofadas, de modo que ficassem aquecidos. Fazia um pouco de frio na sala e um banho quente era o que dominava minha mente.
Após tomar alguns goles e escutar algum ruído sobre a má imagem do congresso nacional, passei a prestar atenção no que dizia a repórter. Segundo diziam os jornalistas, algumas regiões do país têm sido fortemente castigadas por fenômenos climáticos de várias ordens.
Hoje, por exemplo, São Paulo presenciou incomuns ventanias, ultrapassando as velocidades consideradas altas para a região. Dois sujeitos que trabalhavam num andaime passaram por uma situação, digamos, cinematográfica. Balançavam feito bonecos, se chocando com as laterais de um prédio vizinho. Por sei lá que força não caíram, sofrendo apenas ferimentos pelo corpo, nenhum grave.
Mais ao norte dessas terras, quem mostra as caras é a chuva. Teresina, no Piauí, por exemplo, teve algo da grandeza de 65 bairros alagados. A cheia do rio X levou água barrenta a um sem-número de casas, levando a perdas materiais significativas.
No Maranhão, a situação também é bastante grave. Na BR-X o rio varreu parte da estrada federal do mapa. Formou-se então uma fila descomunal de caminhões, já parados há oito dias.
Enquanto isso, no sul o que assola a população é a seca. Rios secando e safras se perdendo já preconizam os tempos difíceis que estão por vir.
Assistir a notícias como essas e ver a situação por que passam aquelas pessoas me incomoda, me diminui. O João da história vendida pelo jornal diz que perdeu tudo, que não tem mais condições de ficar onde está. Sensibilizado, termino meu nescafé com leite.
Engraçado é perceber as exclamações da família que se junta para acompanhar as notícias. "Meu Deus, que horror...", "a coisa está feia por lá, hein" ou ainda "que sujeito teimoso, por que não constrói a casa em outro lugar?".
Imaginem a situação: você sai para trabalhar (e o trabalho já não é fácil) e quando volta, sua casa foi simplesmente invadida por um monte de água barrenta. Seu sofá, sua tevê, sua cama, suas roupas de baixo, suas camisas, sua escova de dentes, sua geladeira...tudo, absolutamente tudo foi perdido. E não há a quem recorrer, não há a quem pedir indenização (peço a meus colegas bacharéis em direito minhas sinceras desculpas caso tenha redigido merda). Simplesmente tudo se foi. E além disso, supondo que você se recupere materialmente desse infortúnio, ainda tem de conviver com a incerteza de que tudo pode acontecer de novo.
Deve ser algo um tanto difícil.
Não que, na minha condição, eu vá ser de alguma ajuda. Sentido algum faz eu jogar o resto de nescafé com leite na pia e viajar para o nordeste exercer voluntariado.
É que é meio cômico esse costume diário que temos de nos reunir na sala para ver a desgraça alheia, enquanto comentamos por entre as manchetes como a mulher que teve a casa destruída era gorda ou o outro sujeito era desdentado. Aliás, é sempre antes do jantar. Vou para a cozinha comer a lasagna enquanto a menina Sarney, governadora do Maranhão, vocifera ante os microfones que precisa de cestas básicas para os abrigos.
Não me culpo, embora talvez deva, nem afirmo que o objetivo dos telejornais seja o de mostrar a desgraça alheia. Mas a simultaneidade desses acontecimentos me intriga.
Mas que seja, estudo economia. A nível macro, esses desastres naturais representam apenas alguns rombos nas contas públicas e algumas cifras a menos no PIB da região afetada. Há algum gasto com saúde e alterações em outras variáveis, mas isso não tem expressão significativa.
Enfim, vou fazer um nescafé com leite agora, é hora do jornal das dez.
Após tomar alguns goles e escutar algum ruído sobre a má imagem do congresso nacional, passei a prestar atenção no que dizia a repórter. Segundo diziam os jornalistas, algumas regiões do país têm sido fortemente castigadas por fenômenos climáticos de várias ordens.
Hoje, por exemplo, São Paulo presenciou incomuns ventanias, ultrapassando as velocidades consideradas altas para a região. Dois sujeitos que trabalhavam num andaime passaram por uma situação, digamos, cinematográfica. Balançavam feito bonecos, se chocando com as laterais de um prédio vizinho. Por sei lá que força não caíram, sofrendo apenas ferimentos pelo corpo, nenhum grave.
Mais ao norte dessas terras, quem mostra as caras é a chuva. Teresina, no Piauí, por exemplo, teve algo da grandeza de 65 bairros alagados. A cheia do rio X levou água barrenta a um sem-número de casas, levando a perdas materiais significativas.
No Maranhão, a situação também é bastante grave. Na BR-X o rio varreu parte da estrada federal do mapa. Formou-se então uma fila descomunal de caminhões, já parados há oito dias.
Enquanto isso, no sul o que assola a população é a seca. Rios secando e safras se perdendo já preconizam os tempos difíceis que estão por vir.
Assistir a notícias como essas e ver a situação por que passam aquelas pessoas me incomoda, me diminui. O João da história vendida pelo jornal diz que perdeu tudo, que não tem mais condições de ficar onde está. Sensibilizado, termino meu nescafé com leite.
Engraçado é perceber as exclamações da família que se junta para acompanhar as notícias. "Meu Deus, que horror...", "a coisa está feia por lá, hein" ou ainda "que sujeito teimoso, por que não constrói a casa em outro lugar?".
Imaginem a situação: você sai para trabalhar (e o trabalho já não é fácil) e quando volta, sua casa foi simplesmente invadida por um monte de água barrenta. Seu sofá, sua tevê, sua cama, suas roupas de baixo, suas camisas, sua escova de dentes, sua geladeira...tudo, absolutamente tudo foi perdido. E não há a quem recorrer, não há a quem pedir indenização (peço a meus colegas bacharéis em direito minhas sinceras desculpas caso tenha redigido merda). Simplesmente tudo se foi. E além disso, supondo que você se recupere materialmente desse infortúnio, ainda tem de conviver com a incerteza de que tudo pode acontecer de novo.
Deve ser algo um tanto difícil.
Não que, na minha condição, eu vá ser de alguma ajuda. Sentido algum faz eu jogar o resto de nescafé com leite na pia e viajar para o nordeste exercer voluntariado.
É que é meio cômico esse costume diário que temos de nos reunir na sala para ver a desgraça alheia, enquanto comentamos por entre as manchetes como a mulher que teve a casa destruída era gorda ou o outro sujeito era desdentado. Aliás, é sempre antes do jantar. Vou para a cozinha comer a lasagna enquanto a menina Sarney, governadora do Maranhão, vocifera ante os microfones que precisa de cestas básicas para os abrigos.
Não me culpo, embora talvez deva, nem afirmo que o objetivo dos telejornais seja o de mostrar a desgraça alheia. Mas a simultaneidade desses acontecimentos me intriga.
Mas que seja, estudo economia. A nível macro, esses desastres naturais representam apenas alguns rombos nas contas públicas e algumas cifras a menos no PIB da região afetada. Há algum gasto com saúde e alterações em outras variáveis, mas isso não tem expressão significativa.
Enfim, vou fazer um nescafé com leite agora, é hora do jornal das dez.
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