Fato é que as provas foram adiadas e tenho agora uma semana perdida no começo de julho pra tentar estudar.
Pois bem. Hoje abri um livro, li cerca de três parágrafos e resolvi alugar um filme. O Curioso Caso de Benjamin Button foi o escolhido na prateleira empoeirada, não havia muito pelo que optar. Do conto de F. Scott Fitzgerald veio o longa de David Fincher. E não, não li o conto primeiro.
Vi o filme sozinho nessa manhã fria de domingo. Me alojei no sofá e, sob as cobertas, confortavelmente enfurnei minha cabeça no travesseiro, apertando o play com um sorriso no rosto. "Ahh..que gostoso estar de férias", me veio à cabeça por um momento.
Pois bem, o filme surpreendeu. Não cheguei a chorar, mas confesso que me sensibilizou um pouco. E fez o domingo ser mais do que um domingo em que a televisão da sala é brindada com a ilustre presença de Fausto Silva.

O fato do filme brincar com o meu conceito de novo e velho, vida e morte e sobretudo com a idéia que tenho de tempo me encantou.
Para seu corpo, o tempo caminhava no sentido reverso. E para sua mente? Benjamin cresceu em meio a pessoas que pareciam com ele fisicamente. Cresceu em meio a muitas histórias. Falas de gente que já tinha vivido décadas. Falas de gente que tinha pouco tempo de vida.
Falas de gente sete vezes atingida por trovões.
"Did I ever tell I've been struck by lightning seven times?", assim dizia Mr. Daws.
Vivo minha vida numa via reta...
Pode ser que hajam curvas, mas sempre estarei andando em frente. Um pé após o outro, num ciclo que em algum momento findará.
Meus aniversários aos poucos vão sendo menos cheios de enfeites e de doces, menos cheios de gente. E os anos vão passando, as experiências vão se acumulando e o corpo vai envelhecendo. Verei aqueles que hoje dividem suas vidas comigo morrerem algum dia. Verei um dia meus pais ficarem doentes, e nesse dia serei eu que irei pro hospital. Serei eu quem apresentará os documentos e cuidará das burocracias. Serei eu que direi "E aí, doutor, é grave?".
Os papéis se inverterão algum dia, mas ainda continuarão sendo os mesmo papéis, com as mesmas rasuras e dobraduras.
Vislumbrado com a questão do tempo, percebi que na verdade estava preocupado com o que faria com esse tempo, com quem passaria as manhãs até o último dia. E, no meio do filme, me dei conta da importância de construir uma família e sentir o tempo passar rodeado daqueles que são importantes pra mim. Aproveitar cada momento, cada fase. Me sentir bem ao envelhecer, me sentir bem sendo pai, depois avô. E ver que depois de tudo que vivi, deixei pra trás um rastro de alegria e felicidade.
Aliás, sempre quis ter uma filha. Uma filha que eu possa levar ao primeiro dia de aula, ensiná-la a andar de bicicleta, dançar uma valsa de 15 anos com ela e vê-la se formar na faculdade. Coisas simples da vida, coisas pequenas do dia-a-dia, mas coisas que tornam essa linha em que vivo infinita, conexa por pontos onde o nó é a morte, na passagem de geração para geração. Onde, quando o meu corpo se for, permaneça a importância e o significado de ter vivido.
Depois de morto, espero ter sido digno o suficiente para merecer de minha filha um lugar nas suas memórias. Espero ter sido digno o suficiente para que um dia ela olhe pra um foto e diga com um brilho nos olhos, "Olha, esse é meu pai!".
"Our lives are defined by its opportunities...even the ones we miss", assim disse Benjamin Button.

Benjamin via seus companheiros de quarto irem aos poucos, enquanto ele apenas começava a escrever sua história. Sempre que alguém morria, chegava outro. Crescer em meio à morte pode ou não trazer à tona o que ela significa. Mas quem sabe o que a morte significa?
"Benjamin, we're meant to lose the people we love. How else would we know how important they are to us?", assim disse Mrs. Maple.