Hoje, enquanto saboreava meu tradicional nescafé com leite, assistia despretenciosamente ao Jornal da Record. Como de costume, me aloquei no canto mais confortável do sofá, tomando o devido cuidado para manter os pés sob as almofadas, de modo que ficassem aquecidos. Fazia um pouco de frio na sala e um banho quente era o que dominava minha mente.
Após tomar alguns goles e escutar algum ruído sobre a má imagem do congresso nacional, passei a prestar atenção no que dizia a repórter. Segundo diziam os jornalistas, algumas regiões do país têm sido fortemente castigadas por fenômenos climáticos de várias ordens.
Hoje, por exemplo, São Paulo presenciou incomuns ventanias, ultrapassando as velocidades consideradas altas para a região. Dois sujeitos que trabalhavam num andaime passaram por uma situação, digamos, cinematográfica. Balançavam feito bonecos, se chocando com as laterais de um prédio vizinho. Por sei lá que força não caíram, sofrendo apenas ferimentos pelo corpo, nenhum grave.
Mais ao norte dessas terras, quem mostra as caras é a chuva. Teresina, no Piauí, por exemplo, teve algo da grandeza de 65 bairros alagados. A cheia do rio X levou água barrenta a um sem-número de casas, levando a perdas materiais significativas.
No Maranhão, a situação também é bastante grave. Na BR-X o rio varreu parte da estrada federal do mapa. Formou-se então uma fila descomunal de caminhões, já parados há oito dias.
Enquanto isso, no sul o que assola a população é a seca. Rios secando e safras se perdendo já preconizam os tempos difíceis que estão por vir.
Assistir a notícias como essas e ver a situação por que passam aquelas pessoas me incomoda, me diminui. O João da história vendida pelo jornal diz que perdeu tudo, que não tem mais condições de ficar onde está. Sensibilizado, termino meu nescafé com leite.
Engraçado é perceber as exclamações da família que se junta para acompanhar as notícias. "Meu Deus, que horror...", "a coisa está feia por lá, hein" ou ainda "que sujeito teimoso, por que não constrói a casa em outro lugar?".
Imaginem a situação: você sai para trabalhar (e o trabalho já não é fácil) e quando volta, sua casa foi simplesmente invadida por um monte de água barrenta. Seu sofá, sua tevê, sua cama, suas roupas de baixo, suas camisas, sua escova de dentes, sua geladeira...tudo, absolutamente tudo foi perdido. E não há a quem recorrer, não há a quem pedir indenização (peço a meus colegas bacharéis em direito minhas sinceras desculpas caso tenha redigido merda). Simplesmente tudo se foi. E além disso, supondo que você se recupere materialmente desse infortúnio, ainda tem de conviver com a incerteza de que tudo pode acontecer de novo.
Deve ser algo um tanto difícil.
Não que, na minha condição, eu vá ser de alguma ajuda. Sentido algum faz eu jogar o resto de nescafé com leite na pia e viajar para o nordeste exercer voluntariado.
É que é meio cômico esse costume diário que temos de nos reunir na sala para ver a desgraça alheia, enquanto comentamos por entre as manchetes como a mulher que teve a casa destruída era gorda ou o outro sujeito era desdentado. Aliás, é sempre antes do jantar. Vou para a cozinha comer a lasagna enquanto a menina Sarney, governadora do Maranhão, vocifera ante os microfones que precisa de cestas básicas para os abrigos.
Não me culpo, embora talvez deva, nem afirmo que o objetivo dos telejornais seja o de mostrar a desgraça alheia. Mas a simultaneidade desses acontecimentos me intriga.
Mas que seja, estudo economia. A nível macro, esses desastres naturais representam apenas alguns rombos nas contas públicas e algumas cifras a menos no PIB da região afetada. Há algum gasto com saúde e alterações em outras variáveis, mas isso não tem expressão significativa.
Enfim, vou fazer um nescafé com leite agora, é hora do jornal das dez.
3 comentários:
É, esse mundo não está fácil...se desviassem um pouquinho menos...
(nem to pedindo pra ser muito), talvez sobrasse algo para ajudar a quem realmente precisa!
Em todo caso, minha dor é grande quando vejo algo assim,acabo enviando a "bendita" cesta básica!
Nossa, acho que a responsa caiu na minha cabeca agora...
Quero que daqui a uns anos, todos nos possamos mudar a vida de muitas pessoas...
Se sentir sensibilizado assim eh um alerta para agir.
E, hey, sr. Economia, por isso esperamos mais de ti!!!
Um dia ainda vou te ver na tv enquanto estiver fazendo a janta.
Beijao
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