domingo, 28 de junho de 2009

Um domingo e Benjamin Button

A recente suspensão das atividades da graduação na faculdade deram a esse final de semestre uma súbita sensação de férias antecipadas. A gripe suína (ou gripe A H1N1, para evitar aborrecimentos aos simpatizantes da nomenclatura correta) trouxe algumas piadas infames e virou espetáculo nos grupos de e-mail. Todos agora fingem espirrar e estar enfermos.
Fato é que as provas foram adiadas e tenho agora uma semana perdida no começo de julho pra tentar estudar.

Pois bem. Hoje abri um livro, li cerca de três parágrafos e resolvi alugar um filme. O Curioso Caso de Benjamin Button foi o escolhido na prateleira empoeirada, não havia muito pelo que optar. Do conto de F. Scott Fitzgerald veio o longa de David Fincher. E não, não li o conto primeiro.
Vi o filme sozinho nessa manhã fria de domingo. Me alojei no sofá e, sob as cobertas, confortavelmente enfurnei minha cabeça no travesseiro, apertando o play com um sorriso no rosto. "Ahh..que gostoso estar de férias", me veio à cabeça por um momento.
Pois bem, o filme surpreendeu. Não cheguei a chorar, mas confesso que me sensibilizou um pouco. E fez o domingo ser mais do que um domingo em que a televisão da sala é brindada com a ilustre presença de Fausto Silva.


O fato do filme brincar com o meu conceito de novo e velho, vida e morte e sobretudo com a idéia que tenho de tempo me encantou.
Para seu corpo, o tempo caminhava no sentido reverso. E para sua mente? Benjamin cresceu em meio a pessoas que pareciam com ele fisicamente. Cresceu em meio a muitas histórias. Falas de gente que já tinha vivido décadas. Falas de gente que tinha pouco tempo de vida.
Falas de gente sete vezes atingida por trovões.

"Did I ever tell I've been struck by lightning seven times?", assim dizia Mr. Daws.

Vivo minha vida numa via reta...
Pode ser que hajam curvas, mas sempre estarei andando em frente. Um pé após o outro, num ciclo que em algum momento findará.
Meus aniversários aos poucos vão sendo menos cheios de enfeites e de doces, menos cheios de gente. E os anos vão passando, as experiências vão se acumulando e o corpo vai envelhecendo. Verei aqueles que hoje dividem suas vidas comigo morrerem algum dia. Verei um dia meus pais ficarem doentes, e nesse dia serei eu que irei pro hospital. Serei eu quem apresentará os documentos e cuidará das burocracias. Serei eu que direi "E aí, doutor, é grave?".
Os papéis se inverterão algum dia, mas ainda continuarão sendo os mesmo papéis, com as mesmas rasuras e dobraduras.

Vislumbrado com a questão do tempo, percebi que na verdade estava preocupado com o que faria com esse tempo, com quem passaria as manhãs até o último dia. E, no meio do filme, me dei conta da importância de construir uma família e sentir o tempo passar rodeado daqueles que são importantes pra mim. Aproveitar cada momento, cada fase. Me sentir bem ao envelhecer, me sentir bem sendo pai, depois avô. E ver que depois de tudo que vivi, deixei pra trás um rastro de alegria e felicidade.

Aliás, sempre quis ter uma filha. Uma filha que eu possa levar ao primeiro dia de aula, ensiná-la a andar de bicicleta, dançar uma valsa de 15 anos com ela e vê-la se formar na faculdade. Coisas simples da vida, coisas pequenas do dia-a-dia, mas coisas que tornam essa linha em que vivo infinita, conexa por pontos onde o nó é a morte, na passagem de geração para geração. Onde, quando o meu corpo se for, permaneça a importância e o significado de ter vivido.
Depois de morto, espero ter sido digno o suficiente para merecer de minha filha um lugar nas suas memórias. Espero ter sido digno o suficiente para que um dia ela olhe pra um foto e diga com um brilho nos olhos, "Olha, esse é meu pai!".

"Our lives are defined by its opportunities...even the ones we miss", assim disse Benjamin Button.


Benjamin via seus companheiros de quarto irem aos poucos, enquanto ele apenas começava a escrever sua história. Sempre que alguém morria, chegava outro. Crescer em meio à morte pode ou não trazer à tona o que ela significa. Mas quem sabe o que a morte significa?

"Benjamin, we're meant to lose the people we love. How else would we know how important they are to us?", assim disse Mrs. Maple.

10 comentários:

Pri Datri disse...

Assisti esse filme há pouco tempo atrás em meio a uma semana de trabalhos e milhares de coisas para fazer onde resolvi respirar um pouco assistindo a um filme onde você vê o tempo passar sem se dar conta.
Achei o filme muito bom e realmente faz a gente refletir bastante.
Espero chegar a minha velhice podendo olhar para tras satisfeita de tudo que pude viver e presenciar. Mas sem dúvida alguma, aqueles que estão à nossa volta contribuem infinitamente para construir o nosso bem estar e satisfação.

Déia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Déia disse...

Oi Gui,
minha net ficou fora do ar.. por isso sumi!
Mas voltei! rs
Nossa, vc me emocionou muito com esse post!
Eu tb assisti o filme e gostei bastante. A vida deveria ser assim, mas pra todos, nascermos velhos e irmos ficando lindos e cheios de vida!

Érica Marin disse...

Não é fácil ver o tempo passar. Ando meio nostálgica e fico pensando em como farei para preservar em mim aquela menina cheia de sonhos sem sofrer mais ainda por ver que as coisas mudaram tanto.
Esse filme é maravilhoso para nos fazer pensar e aqui vai mais uma dica (se vc ainda não assistiu, claro!): Sete vidas!

Érica disse...

acho que eu gostei mais do filme em sua visão do que dele em si!!
ler seu texto hoje me fez lembrar de algo que eu tinha igonorado em mim mesma nesses tempos loucos.
obrigado por acender a luz... que as pessoas tanto tentam apagar!
fascinante!

bjoss

Hiromiiii^^ disse...

Família, morte, tempo, filhos, importância do outro... quanta coisa a se refletir!
Tenho a certeza que meio caminho para seus filhos poderem sentir orgulho de você um dia já foi dado... o orgulho de seus pais em relação a você certamente ser enorme. A outra metade é consequência e será fácil o orgulho mútuo se seus filhos se parecerem com você.
Beijos

Dolle disse...

Quando eu fiquei sabendo desse filme, lembrei de um texto que uma vez eu li, "A vida ao contrário"...
http://sabedoriapopular.redeblogs.com.br/2008/07/14/a-vida-ao-contrario-charles-chaplin/
Talvez a vida fosse melhor assim, mas acho que a gente tem que viver tudo, olhar pra trás um dia e pensar no quanto fomos felizes em todas as fases anteriores (ou seja, concordo com o que voce disse!)
Amei seu texto mais uma vez!
Beijos!

Milena disse...

Estou com este filme aqui em casa p/ ver... só preciso escolher um dia que não esteja tão cansada, pois tenho várias horas de filme...
Muita gente comentou sobre este filme!!

Dani disse...

Olá,
Ainda não assisti este filme, estou curiosa, vários amigos falaram sobre ele!
"Como o tempo passa rápido, né?"
A gente sempre ouve isso...
Lembro do meu passado com carinho, penso e sonho com o meu futuro, mas eu aprendi (muito) aproveitar o meu presente...
Vou ver se assisto este filme no próximo fds!
Bjos

Eduardo Humberto disse...

Olá Gabriel!
Valeu pelo comentário!...

Que legal você também gostar do
'Bólero', ouço desde bem pequeno
e definitivamente é fantástico toda
vez que ouço. Boa música não enjoa, não é?!

Já publiquei o seu texto, muito obrigado mesmo.

Ah... quanto ao filme, ainda não assisti, já ouvi muito falarem a respeito.

Abraço