sábado, 25 de julho de 2009

Vida Simples: Grandes expectativas (4/5)





"Nos relacionamentos

Não há paixão sem idealização. O escritor francês Stendhal já sabia disso. No verão de 1818, ao fazer um passeio pelas minas de sal de Hallein, na Áustria, ele ficou encantado com o que viu. Os mineiros costumavam recolher galhos secos e sem folhas a armazená-los em locais de trabalho abandonados. Depois de um tempo, pelo efeito das águas saturadas de sal, esses galhos, após secarem, iam se cobrindo de cristais salinos, que lhes davam um efeito belíssimo. Os pedaços ficavam tão recobertos de sal que pareciam diamantes. Era quase impossível reconhecer que se tratava de galhos.

Stendhal percebeu ali uma metáfora para o amor romântico: no momento em que começamos a nos interessar por uma pessoa, não a vemos mais como ela realmente é, mas como nos agrada vê-la. A percepção real é tomada por idealizações que a transformam em poesia aos nossos olhos. “Dessa forma, sempre exageramos as qualidades da nossa paixão e acabamos subestimando as falhas e as características negativas que ela possa ter”, diz o psicólogo Thiago de Almeida, especialista em relacionamentos amorosos.

Esse poço de virtudes do nosso bem-amado vai se esvaindo conforme o conhecemos melhor. E, exatamente por termos pintado a pessoa como ideal demais, quando a descobrimos real ficamos decepcionados. O campo dos relacionamentos é o que mais carrega nos traços de uma idealização excessiva, por isso as frustrações amorosas são as mais sentidas. O amor é a coisa mais triste quando se desfaz (como dizia Vinícius) porque ele é idealizado como perfeito demais para se desfazer. Nossa primeira noção de amor vem da nossa mãe, do amor absoluto que não tem fim. “E alguns continuam a exigir o incondicional amor materno, fantasiado e disfarçado em relacionamentos amorosos adultos”, escreve a psicoterapeuta Judith Viorst no livro Perdas Necessárias. Na vida real, os relacionamentos acabam, se desfazem – aposto que todo mundo tem aí algo para contar sobre o fim de uma paixão.

Porém, o lado bom dessa história toda é que, se superada a idealização, o contentamento romântico tende a amadurecer em uma união profunda. O que era pura “cristalização” dá lugar a um relacionamento real. Para que ele sobreviva às expectativas fantasiosas, é preciso aceitar que os galhos não são cristais de sal. Deve-se gostar dos galhos justamente porque eles são galhos – independentemente da forma como estejam recobertos.

A melhor maneira de evitar desilusões é planejar com realismo suas metas.

Passada essa fase inicial, a próxima também tende a ser complicada: fazer o relacionamento dar certo a despeito das perspectivas que criamos com relação ao parceiro. Não existe segredo para isso, mas os especialistas aconselham que a honestidade pode ser uma boa saída para evitar frustrações. Ponha as cartas na mesa: deixe claro o que espera da relação e o que está disposto a fazer para ela dar certo – e em que não consegue ceder. Dessa forma, as expectativas tendem a ser mais realistas e não caímos na tentação de querer presumir o que o outro pensa ou deseja. Nem querer que o outro adivinhe o que esperamos dele."


Nesse temos de tudo, um escritor, um psicólogo, uma psicoterapeuta e, logicamente, Vinícius, que não poderia faltar quando o tema é esse.
Concordo com a quase totalidade do que foi dito. Apesar de (achar) seguir o manual da não-idealização e do realismo, não sei até ponto posso me ater a ele.
Ela é perfeita pra mim, e não sei quando vai deixar de ser. Talvez aconteça um dia, talvez não. Quem sabe?

Dos relacionamentos que já tive tirei lições das expectativas e frustrações. É como diz o texto, não podemos esperar que o outro adivinhe o que estamos pensando, o que estamos querendo, nem o que estamos planejando. A insegurança e o medo da coisa toda acabar fecham os olhos para o que poderia ser vivido, e muitas vezes acabamos com uma lista das coisas que achamos que temos que fazer, como se fôssemos seguir um manual, uma receita.
É preciso saber ceder, nem dar de menos e nem dar de mais. Mas é sempre preciso estar lá pra quem se ama.

Talvez o amor, como dizia Vinícius, seja mesmo a coisa mais triste quando se desfaz.
E ouçamos à voz de Gal Gosta.
 


Eu amei,
E amei ai de mim muito mais
Do que devia amar
E chorei
Ao sentir que iria sofrer
E me desesperar

Foi então
Que da minha infinita tristeza
Aconteceu você
Encontrei em você
A razão de viver
E de amar em paz
E não sofrer mais,
Nunca mais
Porque o amor
É a coisa mais triste
Quando se desfaz
O amor é a coisa mais triste
Quando se desfaz

2 comentários:

Dani disse...

Olá... só de passagem para visitar a sua série Vida simples... bom final de semana!

Daniela Rodrigues Badra disse...

SDepois do falecimento de pessoas da familia é sim...beijos!