terça-feira, 21 de julho de 2009
Vida Simples: Grandes expectativas (2/5)
"Na família
É na infância que lidamos pela primeira vez com nossas frustrações: ter que largar a chupeta, não ganhar aquele brinquedo que pedimos, perder a atenção irrestrita com o nascimento do irmão. Nessa fase aparece em nosso caminho uma palavra chata que vai nos perseguir para sempre: “não!”. E é justamente a relação com ela que vai definir nosso controle emocional diante das negativas da vida. “As pessoas que ouviram pouco ‘não’ na infância têm muito mais dificuldade de aceitar uma recusa quando se desenvolvem e se tornam adultas”, afirma a filósofa e educadora Tânia Zagury.
Muitos pais evitam dizer “não” como forma de resguardar o filho de se frustrar. Como se fosse possível impedir que a criança se sinta desiludida vez ou outra. O grande problema é que, se uma pessoa não aprende desde cedo a conviver com a decepção em coisas cotidianas, vai ter sérias dificuldades para lidar com o fim de um relacionamento ou não ser aceito em um trabalho.
Na mesma medida que é importante ensinar os filhos a conquistarem o que querem, é imprescindível também mostrar que nem tudo que se quer pode ser conquistado. Nesse sentido, a frustração coloca nossos pés no chão, mostrando que a realidade dos fatos, na maioria das vezes, está muito longe daquela que idealizamos. “A frustração é pintada como algo ruim, que se deve evitar. Ao passo que, se bem trabalhada, ela pode ser bastante positiva para o crescimento pessoal, para o amadurecimento psíquico e o aprimoramento das relações de um indivíduo”, diz Tânia.
Desde pequena Melissa Rondon teve que conviver com a decepção de não conhecer o pai. Quando a mãe dela ainda estava grávida, eles brigaram e ele nunca mais apareceu. Aos 12 anos, ela resolveu que queria conhecê-lo, tentar resgatar uma relação mesmo que tardia. Com a ajuda de uma tia, ela conseguiu contatá-lo e marcaram um encontro. Mas de novo teve que enfrentar a frustração. O pai tinha outra família e não estava disposto a assumi-la para a esposa e os novos filhos. A rejeição foi um balde de água fria na expectativa de Melissa. “Quando o procurei, achei que teria um pai de verdade, que me ligasse, que pudesse sair comigo para conversar, que se preocupasse. Não alguém que quisesse uma relação assim, escondida”, diz.
Hoje, aos 25 anos, Melissa garante que superou bem a desilusão justamente por não ter idealizado tanto o pai. “Não podia esperar muito de alguém que nunca se esforçou para me conhecer.” É comum as crianças verem seus pais e mães como deuses, infalíveis e perfeitos. Mas, à medida que crescem, percebem que essa imagem não é real, que eles têm defeitos, limitações – e se frustram. Nas relações familiares, as decepções estão principalmente ligadas a padrões que criamos. O pai que quer que o filho seja algo que ele não é, o filho que espera que a mãe seja mais carinhosa. “O segredo é aceitar que nossos familiares são pessoas com visões diferentes das nossas idealizações”, aconselha o terapeuta familiar americano David Niven. E ele conclui: “Não estrague sua vida familiar estabelecendo padrões que você criou para ela”."
Sempre que converso de família com alguns de meus amigos, surgem citações a Freud. Um ou outro muito raramente arrisca citar algum outro autor das coisas da psique. Eu, como bom estudante de economia, não entendo absolutamente nada de Freud ou das ciências da psique. O máximo que chego a discursar sobre a natureza humana trata da racionalidade maximizadora do homem. Que vergonha meu Deus.
Pois bem, acho que no que concerne à família não tive tantas expectativas e/ou frustrações. Não que nunca tivesse passado pela minha cabeça o sentimento de querer que meu pai ou minha mãe fossem diferentes em alguns aspectos. Mas penso que isso não afetou substancialmente a maneira como os encarava. Creio que aprendi - e já há algum tempo - a aceitá-los como são. Já baseio minhas ações em expectativas reais, fruto de curtos 20 anos de convivência com eles. Sei, ao menos parcialmente, até onde posso ir e como posso ir.
Mas também nunca tive uma experiência como a da Melissa da reportagem, meu pai sempre esteve ao meu lado.
Tenho expectativas, aí sim, diante da minha capacidade de formar uma família. E certamente terei frustrações. Coisas que hoje considero negativas na minha relação pai-filho podem ser repetidas no futuro. E pior que junto dessa frustração vem o sentimento de culpa.
Mas antecipar isso parece forçar um pouco a barra, afinal de contas quem sou eu pra ter certeza do que é bom ou ruim numa relação familiar?
Mas como diz Álvaro de Campos naquele trecho de Tabacaria, "Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo".
E o sonho de ter uma família unida e que se dê bem é um dos meus sonhos nesse mundo. Independentemente das expectativas e das frustrações.
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Um comentário:
"Não estrague sua vida familiar estabelecendo padrões que você criou para ela”."
Amei essa frase... e isso vale pra tudo..Só se aprende a viver..vivendo..
Não existe ensaio, não existe certo , nem errado...existem necessidades, saiba ouví-las...afinal cada ser é único..
beijos, vc será um ótimo pai! eu aposto!
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