Natal é um troço......esquisito. Aliás, quase todas as datas comemorativas o são.
É, antes de mais nada, uma data religiosa, celebração do nascimento de Jesus Cristo, tal como aprendemos na escola.
O curioso se dá na forma que essa celebração toma. Reduz-se, aos sem espírito natalino-cristão, como eu, basicamente a dois elementos: comida e presentes. Cabe uma descrição. Tentarei ser o mais breve e o mais chato possível.
A mesa é sempre farta, os pratos não são mais os transparentes da Duralex, agora é tempo de porcelana. Os copos, dizem, são de cristal. Para beber, champagne (está certo, espumante...a quem quero enganar...) e sucos diversos (nem tanto). Para comer, peru peitudo, arroz com passas, maionese, panettones, frutas secas e outras miudezas.
Inicia-se a ceia por volta das onze horas. Ninguém mais tem paciência de fingir assistir aos especiais de Natal da Globo. Ainda bem, visto que o desse ano ficou a cargo da Xuxa. Ainda bem.
Quando se aproxima da meia-noite, todos ficam eufóricos. A virada do dia é regada a abraços e desejos de Natais felizes. O próximo em cena é o espumante e sua rolha que sempre atrasa o saudável andamento da cerimônia. Feito o brinde, é hora de apreciar a salva de fogos de artifício.
Parênteses. Pra que diabos fogos de artifício no Natal ?!
Fica-se ali, observando a repetividade visual e auditiva. Nos primeiros 30 segundos é uma maravilha, muito além disso já incomoda.
Passada a primeira parte, vêm os presentes. Essa parte é até bastante cômica, com situações que se repetem todo ano. Sempre há alguém que nunca dá presente, só recebe; sempre alguém sai de mãos vazias, fazendo comentários azedos acerca dos presentes dos outros; alguma criança sempre quebra o boneco que acabara de ganhar. Há tantas outras...Fato é que, nessa hora, é possível avaliar como andam os laços afetivo-financeiros em sua família.
Me foi dito que se dá presentes no Natal em virtude de algo que envolvia os Três Reis Magos, não me recordo direito.
Finda a entrega dos presentes, os presentes conversam por mais algum tempo, enquanto termina o especial de Natal da Globo. Alguns já foram embora. Chega ao fim mais uma ceia natalina.
Deixo claro que não sou ateu, anticristo ou congêneres. A infantil reflexão, irônica até certo ponto, se dá, única e exclusivamente, na forma da ceia de Natal. Seu sentido religioso é, apesar de tudo, bastante positivo. Faz com que emerjam sentimentos há muito negligenciados pela comunidade como um todo. É comum ver papais-nóeis entregando balas pelas ruas, instituições das mais diversas naturezas organizando campanhas solidárias. Até o simples ato de comprar pão na padaria e desejar feliz natal ao caixa é digno de destaque. Por um breve momento, ele não é simplesmente o caixa, é uma pessoa.
Mesmo que seja de uma forma um tanto mecânica e (bastante) superficial, o Natal muda nosso comportamento com relação à comunidade. Em tempos como os nossos, isso já é grande.
Há, claro, todo um lado mercadológico que envolve a própria existência do Natal tal como ele é. Mas esse post já está muito grande. Fica pra outra hora.
Por ora, é só. Desconsiderem o título, já é dia 29. Desta vez, confesso, estou sem criatividade para criar títulos
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Agir é ser ?
Roubarei o título do texto de uma pessoa por quem nutro especial carinho. Não porque esteja sem criatividade para criar títulos, mas porque esse em particular me intrigou, assim como o próprio texto.
Agir é ser ?
Quantas vezes já não me fiz essa pergunta...E quantas vezes já mudei a resposta.
Eu poderia recorrer ao nanocubículo que é meu entendimento da sociologia e dizer que há uma fossa faraônica entre o agir e o ser do indivíduo. Não somos mais, apenas agimos. Não há mais o que ser, o agir substituiu o ser, tornando-nos apenas engrenagens de um sistema maior, auto-destrutivo em potencial, mas que se refaz a todo instante.
Mas seria forçar demais a barra pro meu lado, não tenho pretensões de soar sociólogo.
Creio que já falei isso em outros posts (talvez em vários deles, indiretamente): o quanto do que faço é, de fato, para mim mesmo ? Quão parte de minhas próprias ações me sinto ? Ou seja, até que ponto meu agir corresponde ao meu ser ?
Coisas simples do dia-a-dia ora entram nesse dilema, ora não. As obrigações diárias quase sempre são questionadas. Aquilo que damos por certo e correto na vida e aquilo que definimos como o melhor para o futuro nos confundem tanto que se perder é, digamos, natural.
Buscar as razões do agir, quando este não é o ser, é completamente frustrante. Simplesmente não encontramos essas razões. E a sensação que fica é de que somos infantis, mesquinhos e imaturos para lidar com questões de caráter prático. Ouço por aí que eu estou na maior faculdade do Brasil, que meu futuro é brilhante. Dizem que muitos queriam estar onde eu estou, que sou privilegiado...blá blá blá.
Mas tem horas que simplesmente nada faz sentido. É inevitável.
Há um vácuo enorme entre o agir e o ser tal como os defino. Talvez porque somos bombardeados todos os dias com direções de um agir tido como ideal. "Faça isso e será magro!", "faça aquilo e será feliz!", "faça aquiloutro e será bem-sucedido!". E o ser se perde cada vez mais, em meio a um agir confuso e predefinido por tudo e por todos, até por nós mesmos.
Buscamos incessantemente a felicidade e o prazer, através de ações que acreditamos corresponder ao que somos. Mas muitas vezes ignoramos os sentimentos mais primitivos, como aqueles que fazem um olhar ou uma simples risada fazer valer um dia inteiro. Nada mais seria necessário, a não ser deitar e esperar o Sol aparecer de novo. E de novo. E de novo...
Talvez aquela frase, já um tanto passada, faça algum sentido pra alguém.
"Seja você mesmo !"...
Agir é ser ?
Quantas vezes já não me fiz essa pergunta...E quantas vezes já mudei a resposta.
Eu poderia recorrer ao nanocubículo que é meu entendimento da sociologia e dizer que há uma fossa faraônica entre o agir e o ser do indivíduo. Não somos mais, apenas agimos. Não há mais o que ser, o agir substituiu o ser, tornando-nos apenas engrenagens de um sistema maior, auto-destrutivo em potencial, mas que se refaz a todo instante.
Mas seria forçar demais a barra pro meu lado, não tenho pretensões de soar sociólogo.
Creio que já falei isso em outros posts (talvez em vários deles, indiretamente): o quanto do que faço é, de fato, para mim mesmo ? Quão parte de minhas próprias ações me sinto ? Ou seja, até que ponto meu agir corresponde ao meu ser ?
Coisas simples do dia-a-dia ora entram nesse dilema, ora não. As obrigações diárias quase sempre são questionadas. Aquilo que damos por certo e correto na vida e aquilo que definimos como o melhor para o futuro nos confundem tanto que se perder é, digamos, natural.
Buscar as razões do agir, quando este não é o ser, é completamente frustrante. Simplesmente não encontramos essas razões. E a sensação que fica é de que somos infantis, mesquinhos e imaturos para lidar com questões de caráter prático. Ouço por aí que eu estou na maior faculdade do Brasil, que meu futuro é brilhante. Dizem que muitos queriam estar onde eu estou, que sou privilegiado...blá blá blá.
Mas tem horas que simplesmente nada faz sentido. É inevitável.
Há um vácuo enorme entre o agir e o ser tal como os defino. Talvez porque somos bombardeados todos os dias com direções de um agir tido como ideal. "Faça isso e será magro!", "faça aquilo e será feliz!", "faça aquiloutro e será bem-sucedido!". E o ser se perde cada vez mais, em meio a um agir confuso e predefinido por tudo e por todos, até por nós mesmos.
Buscamos incessantemente a felicidade e o prazer, através de ações que acreditamos corresponder ao que somos. Mas muitas vezes ignoramos os sentimentos mais primitivos, como aqueles que fazem um olhar ou uma simples risada fazer valer um dia inteiro. Nada mais seria necessário, a não ser deitar e esperar o Sol aparecer de novo. E de novo. E de novo...
Talvez aquela frase, já um tanto passada, faça algum sentido pra alguém.
"Seja você mesmo !"...
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
Vem 2009, mas não vai 2008
O ano chega ao fim. Não há mais provas na faculdade. As luzes de natal já começam a dar as caras. Já vejo papais noéis pendurados por entre as janelas dos edifícios, com suas barbas felpudas pobremente confeccionadas surradas pelas chuvas. Alguns já perderam o bigode, outros ficaram carecas.
As propagandas natalinas anunciam mais um final de período. A expansão do crédito impulsionou o consumo.
É tempo de dar presentes, de comer arroz com passas e peru com batatas. Logo menos o estampir das rolhas prenunciará o momento em família. Abraços, beijos, sorrisos. É um momento único, literalmente. Perdi a conta de quantos meses se passaram desde a última vez que vi meus primos. Meus tios então...nem se fala. Mas a digressão acerca da ceia de natal fica pra depois.
O que vem me incomodando é a descontinuidade nesse final de 2008, que pareceu tão curto há pouco tempo atrás, mas agora parece não ter fim. Minha cabeça já está em 2009, arquitetando e maquinando minhas próximas ações, falas, olhares. Logo atrás disso ficou um vazio, um buraco no meio da via. O conserto não sei quando vem.
Esse é o problema com a maldita periodização. Dividir o tempo em períodos, infinitos deles, torna a vida tão metódica e sistemática que eu preciso de uma mudança numérica pra sentir que as coisas vão finalmente se acertar.
Por que não em 2008 ? Porque 2008 é 2008, e já é fim de 2008. Não há mais tempo (e, a propósito, nem condições) de acertar as coisas em 2008.
Mas sem problemas, agora vem 2009! Agora é a chance de fazer acontecer!
Mas pra cair na real é preciso que o Reveillon me renove as forças e me mostre que, independente de ser 2008 ou 2009, ainda me deparo com as mesmas angústias, as mesmas incertezas e as mesmas saudades.
Patético, você há de concordar.
Assuntos pendentes me incomodam e impedem minha cabeça de dar 2008 por encerrado. Espero que eu ache as respostas que procuro, mas que parecem vir de perguntas que ainda nem foram feitas.
As propagandas natalinas anunciam mais um final de período. A expansão do crédito impulsionou o consumo.
É tempo de dar presentes, de comer arroz com passas e peru com batatas. Logo menos o estampir das rolhas prenunciará o momento em família. Abraços, beijos, sorrisos. É um momento único, literalmente. Perdi a conta de quantos meses se passaram desde a última vez que vi meus primos. Meus tios então...nem se fala. Mas a digressão acerca da ceia de natal fica pra depois.
O que vem me incomodando é a descontinuidade nesse final de 2008, que pareceu tão curto há pouco tempo atrás, mas agora parece não ter fim. Minha cabeça já está em 2009, arquitetando e maquinando minhas próximas ações, falas, olhares. Logo atrás disso ficou um vazio, um buraco no meio da via. O conserto não sei quando vem.
Esse é o problema com a maldita periodização. Dividir o tempo em períodos, infinitos deles, torna a vida tão metódica e sistemática que eu preciso de uma mudança numérica pra sentir que as coisas vão finalmente se acertar.
Por que não em 2008 ? Porque 2008 é 2008, e já é fim de 2008. Não há mais tempo (e, a propósito, nem condições) de acertar as coisas em 2008.
Mas sem problemas, agora vem 2009! Agora é a chance de fazer acontecer!
Mas pra cair na real é preciso que o Reveillon me renove as forças e me mostre que, independente de ser 2008 ou 2009, ainda me deparo com as mesmas angústias, as mesmas incertezas e as mesmas saudades.
Patético, você há de concordar.
Assuntos pendentes me incomodam e impedem minha cabeça de dar 2008 por encerrado. Espero que eu ache as respostas que procuro, mas que parecem vir de perguntas que ainda nem foram feitas.
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
Dias como estes e aqueles
Ontem completei 20 anos de vida. Nada mais clichê e piegas do que escrever sobre a vida na data de aniversário. Porque recordar...recordar é viver. E um viva à cretinice.
Aniversários constituem dias esquisitos. Dias em que as pessoas me tratam de maneira incomum, me abraçam mais, falam coisas diferentes. O costumeiro "bom-dia" dá lugar a um inusitado "parabéns" seguido de um abraço, geralmente mais longo e apertado que os de outros dias.
Os presentes, comuns nos anos dourados da infância, vão escasseando com o avanço da idade. Os que vêm raramente estão empacotados. Não há mais papéis decorados e ornamentos delicadamente preparados.
Os bolos também não dão mais as caras. Brigadeiro, nem de colher. Será que ainda produzem velas ?
O fato de meu aniversário coincidir com o final do ano dá margem a um bom número de reflexões. Repassar as memórias e fazer um balanço do ano é inevitável, um tanto nostálgico, diga-se de passagem.
Objetivos e resultados, projeções e fins, se distorceram totalmente. Já não cabe mais o arrependimento por algo não feito, ou por algo feito. O que se tem é que é presente. Passado e futuro não fazem nada além de ofuscar o presente. E ponto.
Mas...eu falo isso todo fim de ano.
E todo começo de ano eu me apoio nos mesmos sonhos e expectativas. É incrível o fato de, depois de Dezembro, vir Janeiro, e as implicações que essa periodicidade tem sobre minha vida. É o sentimento de renovação, tão necessário numa vida de rotinas e obrigações para com tudo que se possa imaginar e tão sinal da fragilidade da vida humana. Roubo aqui as palavras de um grande professor de literatura do cursinho: a vida é um constante e "eterno retorno do mesmo". Concordo em parte com sua tese, mas isso fica pra outra hora.
Enfim, todo ano é a mesma balela...mas uma coisa decerto merece destaque: o valor inestimável das amizades que construí nesse ano e que ainda tem muito espaço pra crescer. Isso sim é destacável.
20 anos completados e uma barba por fazer. É assim que me sinto nesse fim de texto.
Boa noite.
Ps. não consegui completar o texto a tempo. Esse era pra ser o último post de Novembro...
Mas que droga.
Aniversários constituem dias esquisitos. Dias em que as pessoas me tratam de maneira incomum, me abraçam mais, falam coisas diferentes. O costumeiro "bom-dia" dá lugar a um inusitado "parabéns" seguido de um abraço, geralmente mais longo e apertado que os de outros dias.
Os presentes, comuns nos anos dourados da infância, vão escasseando com o avanço da idade. Os que vêm raramente estão empacotados. Não há mais papéis decorados e ornamentos delicadamente preparados.
Os bolos também não dão mais as caras. Brigadeiro, nem de colher. Será que ainda produzem velas ?
O fato de meu aniversário coincidir com o final do ano dá margem a um bom número de reflexões. Repassar as memórias e fazer um balanço do ano é inevitável, um tanto nostálgico, diga-se de passagem.
Objetivos e resultados, projeções e fins, se distorceram totalmente. Já não cabe mais o arrependimento por algo não feito, ou por algo feito. O que se tem é que é presente. Passado e futuro não fazem nada além de ofuscar o presente. E ponto.
Mas...eu falo isso todo fim de ano.
E todo começo de ano eu me apoio nos mesmos sonhos e expectativas. É incrível o fato de, depois de Dezembro, vir Janeiro, e as implicações que essa periodicidade tem sobre minha vida. É o sentimento de renovação, tão necessário numa vida de rotinas e obrigações para com tudo que se possa imaginar e tão sinal da fragilidade da vida humana. Roubo aqui as palavras de um grande professor de literatura do cursinho: a vida é um constante e "eterno retorno do mesmo". Concordo em parte com sua tese, mas isso fica pra outra hora.
Enfim, todo ano é a mesma balela...mas uma coisa decerto merece destaque: o valor inestimável das amizades que construí nesse ano e que ainda tem muito espaço pra crescer. Isso sim é destacável.
20 anos completados e uma barba por fazer. É assim que me sinto nesse fim de texto.
Boa noite.
Ps. não consegui completar o texto a tempo. Esse era pra ser o último post de Novembro...
Mas que droga.
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Masque
Ontem o dia estava bonito, até que fez Sol. Mas eu gostei mesmo das nuvens, faziam uns desenhos engraçados em cima da árvore. Uma lá parecia um sorvete, de três bolas creio.
Mas eu não fiz nada de interessante, além de fingir cantar. Porém, mesmo fingindo cantar, eu estava em silêncio. Um silêncio tão profundo, frio. Será que alguém percebeu ? Duvido.
Nossas máscaras são perfeitas, muitas vezes muito perfeitas. E por trás da pele, dos dentes, da barba e do osso, existe uma imensidão de pensamentos, de viagens, tão pessoais e particulares quanto a voz. Atrás dessa máscara é que nos escondemos, nos esquivamos dos olhares e julgamentos alheios. Esses, dependendo de quem venham, são piores que veneno.
Quando é que se conhece realmente uma pessoa nesse mundo ?
Talvez eu não conheça nem a minha mãe como ela de fato é...
Talvez eu não conheça as pessoas com quem vivi os curtos, mas inteiros, 20 anos de minha vida. Se nem eles eu tenho certeza se conheço, quem mais eu poderia conhecer ?
Sartre foi genial. "O inferno são os outros". Sim, o inferno é o outro, mas sem esse outro, o buraco seria mais abaixo. Disso eu tenho certeza, por que a loucura interna pode exceder em muito a loucura externa.
A preocupaçao que tenho com o que vai na mente do resto da gente é enorme. Por que faço as coisas que faço ? Por que não faço as coisas que não faço ? Aí fica difícil. Realmente difícil. E difícil também é evitar a solidão, em alguma qualquer parte do dia. Justamente pelo fato de não se sentir parte de suas próprias ações.
Acordar é um momento deprimente...Convenhamos. E não, não estou ficando louco. Ainda pagarei meus impostos em dia.
Mas eu não fiz nada de interessante, além de fingir cantar. Porém, mesmo fingindo cantar, eu estava em silêncio. Um silêncio tão profundo, frio. Será que alguém percebeu ? Duvido.
Nossas máscaras são perfeitas, muitas vezes muito perfeitas. E por trás da pele, dos dentes, da barba e do osso, existe uma imensidão de pensamentos, de viagens, tão pessoais e particulares quanto a voz. Atrás dessa máscara é que nos escondemos, nos esquivamos dos olhares e julgamentos alheios. Esses, dependendo de quem venham, são piores que veneno.
Quando é que se conhece realmente uma pessoa nesse mundo ?
Talvez eu não conheça nem a minha mãe como ela de fato é...
Talvez eu não conheça as pessoas com quem vivi os curtos, mas inteiros, 20 anos de minha vida. Se nem eles eu tenho certeza se conheço, quem mais eu poderia conhecer ?
Sartre foi genial. "O inferno são os outros". Sim, o inferno é o outro, mas sem esse outro, o buraco seria mais abaixo. Disso eu tenho certeza, por que a loucura interna pode exceder em muito a loucura externa.
A preocupaçao que tenho com o que vai na mente do resto da gente é enorme. Por que faço as coisas que faço ? Por que não faço as coisas que não faço ? Aí fica difícil. Realmente difícil. E difícil também é evitar a solidão, em alguma qualquer parte do dia. Justamente pelo fato de não se sentir parte de suas próprias ações.
Acordar é um momento deprimente...Convenhamos. E não, não estou ficando louco. Ainda pagarei meus impostos em dia.
domingo, 23 de novembro de 2008
Incômodo a reconhecer
Disseram-me que meus últimos textos têm soado tristes. Não sei por quê, não há razão. De fato, lendo-os novamente sou forçado a concordar. Pensando agora nisso...é claramente mais difícil escrever textos alegres, principalmente sem fazer com pareçam textos de auto-ajuda (exceção feita às comédias, que muitas vezes falam tristezas e nos fazem ficar alegres. Ah...as comédias).
Falar sobre a alegria e sobre a felicidade, sobre como as coisas estão dando certo, soa incrivelmente forçado, às vezes infantil. "Você está fechando os olhos para os problemas!", "a vida não é cor de rosa!". E reconhecer que as coisas vão bem é difícil. Muitas vezes só reconheço que iam bem quando agora vão mal.
Por que será que só reparamos nos erros e consideramos os acertos como naturais ?
Acho que o ponto central se dá em torno das expectativas. Essas são traiçoeiras, povoam minha mente aos montes e me impedem de dormir antes da meia-noite. Assumo que grande parte das minhas expectativas nascem das minhas vontades, sejam elas físicas, psicológicas, químicas, econômicas, sociais, blá blá blá.
As vontades geram expectativas que geram projeções. Se o projetado não ocorrer como tal, vem a decepção, e como ela os textos estranhos.
Agora quando o projetado ocorre como tal passa despercebido. A expectativa, atendida, se esvai com o ato em si. Resta um confortante alívio, que dura o quê...alguns minutos ?
Se a expectativa é negativa, a ponto de se tornar medo, não faço o que tenho vontade. Mas a vontade permanece, me atormenta.
Mas isso é o que faz a vida de um homem ser tão...humana. Uma constante turbulência de expectativas, vontades, projeções, emoções, dúvidas. O problema é que restringimos a maioria dessas sensações, trancamos nossas vontades todos os dias, por medo dos resultados. E são elas que fazem que me sinta bem ou não, à vontade ou inibido. São elas que me realizam como pessoa, como homem.
Portanto, faça aquilo que tem vontade, na medida do possível.
(Não consegui escapar da mensagem de um auto-ajuda cretino, talvez tenha que repensar meus conceitos acerca desse gênero).
Tentarei ser mais solidário comigo mesmo, lembrar do que tem acontecido de bom, reconhecer aquilo que já foi alcançado. Só não prometo escrever...aí já é pedir demais.
Falar sobre a alegria e sobre a felicidade, sobre como as coisas estão dando certo, soa incrivelmente forçado, às vezes infantil. "Você está fechando os olhos para os problemas!", "a vida não é cor de rosa!". E reconhecer que as coisas vão bem é difícil. Muitas vezes só reconheço que iam bem quando agora vão mal.
Por que será que só reparamos nos erros e consideramos os acertos como naturais ?
Acho que o ponto central se dá em torno das expectativas. Essas são traiçoeiras, povoam minha mente aos montes e me impedem de dormir antes da meia-noite. Assumo que grande parte das minhas expectativas nascem das minhas vontades, sejam elas físicas, psicológicas, químicas, econômicas, sociais, blá blá blá.
As vontades geram expectativas que geram projeções. Se o projetado não ocorrer como tal, vem a decepção, e como ela os textos estranhos.
Agora quando o projetado ocorre como tal passa despercebido. A expectativa, atendida, se esvai com o ato em si. Resta um confortante alívio, que dura o quê...alguns minutos ?
Se a expectativa é negativa, a ponto de se tornar medo, não faço o que tenho vontade. Mas a vontade permanece, me atormenta.
Mas isso é o que faz a vida de um homem ser tão...humana. Uma constante turbulência de expectativas, vontades, projeções, emoções, dúvidas. O problema é que restringimos a maioria dessas sensações, trancamos nossas vontades todos os dias, por medo dos resultados. E são elas que fazem que me sinta bem ou não, à vontade ou inibido. São elas que me realizam como pessoa, como homem.
Portanto, faça aquilo que tem vontade, na medida do possível.
(Não consegui escapar da mensagem de um auto-ajuda cretino, talvez tenha que repensar meus conceitos acerca desse gênero).
Tentarei ser mais solidário comigo mesmo, lembrar do que tem acontecido de bom, reconhecer aquilo que já foi alcançado. Só não prometo escrever...aí já é pedir demais.
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
Fim de festa
Deu 3h. Aos poucos os presentes se retiram. Aqui, só limpeza a fazer. Miles Davis de fundo; penumbra. Sobraram: eu, ela e o cachorro. O pobrezinho estava meio tonto, lambendo a própria genitália, ela me contara que haviam dado de beber ao animal.
"Foi o vinho...", lamentava.
Logo o cachorro se deitou, dava sinais de se entregar aos prazeres do sono pós-vinho. Sobraram: eu e ela. Recolhendo as latas distorcidas e os copos parcialmente inteiros.
Sugeri usar o aspirador para dar cabo dos cacos e das pipocas dispersas no tapete, mas fui de pronto repreendido.
"Não quero barulho.", reiterava.
Ela há tempos desistira da faxina, se ocupava agora de suas unhas, retirando detritos e afins. Olhava furtivamente para minha calça.
Abaixava para recolher a última lata quando o tecido se rompeu na região traseira. Ela desfaleu-se em gargalhadas, por minutos. Não aguentei, tive que acompanhá-la.
"Hahahahahahaha !!!", ria.
Aquela última lata permanecera no tapete. Deitei-me junto a ela no sofá. Minha mão agia sozinha, assim como a dela. Beijos.
"Não aguento mais...não aguento...", murmurava.
Fechou os olhos. Falecera. Segundo os médicos, tinha 6 meses de vida. Se foi na segunda semana. Acordara naquele dia decidida a viver uma noite memorável. E foi.
Sobraram: eu.
"...".
Recolhi a última lata, a faxina estava completa. Cabia agora organizar os trâmites judiciais do falecimento e escolher o modelo do caixão. Ela gostava de cedro.
Deu 5h, já é tarde. Também me retiro.
"Foi o vinho...", lamentava.
Logo o cachorro se deitou, dava sinais de se entregar aos prazeres do sono pós-vinho. Sobraram: eu e ela. Recolhendo as latas distorcidas e os copos parcialmente inteiros.
Sugeri usar o aspirador para dar cabo dos cacos e das pipocas dispersas no tapete, mas fui de pronto repreendido.
"Não quero barulho.", reiterava.
Ela há tempos desistira da faxina, se ocupava agora de suas unhas, retirando detritos e afins. Olhava furtivamente para minha calça.
Abaixava para recolher a última lata quando o tecido se rompeu na região traseira. Ela desfaleu-se em gargalhadas, por minutos. Não aguentei, tive que acompanhá-la.
"Hahahahahahaha !!!", ria.
Aquela última lata permanecera no tapete. Deitei-me junto a ela no sofá. Minha mão agia sozinha, assim como a dela. Beijos.
"Não aguento mais...não aguento...", murmurava.
Fechou os olhos. Falecera. Segundo os médicos, tinha 6 meses de vida. Se foi na segunda semana. Acordara naquele dia decidida a viver uma noite memorável. E foi.
Sobraram: eu.
"...".
Recolhi a última lata, a faxina estava completa. Cabia agora organizar os trâmites judiciais do falecimento e escolher o modelo do caixão. Ela gostava de cedro.
Deu 5h, já é tarde. Também me retiro.
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
Óbituário
Essa noite sentei-me em frente à gaiola dos periquitos que vivem em casa. Fiquei lá por dez ou quinze minutos, observando o que se passava. O branco vinha se sentindo fraco ultimamente, respirava com dificuldade, comia pouco. É o alpiste, pensei. Troquei de fornecedor, mas o pobrezinho não dava sinais de melhora. Me dei conta então que se aproximava de sua fase terminal, dos instantes em que lutaria para sobreviver.
Que será que pensam os passáros ? Seu comportamento parece normal. Cantam e berram o tempo todo, esbravejando suas indignações para com a repressão da gaiola. Fora isso, comem grãos em significativa quantidade e cagam em outra ainda maior, forçando-me a trocar o jornal com certa frequência.
Não sei se conversam, nao sei se estão coçando a garganta. Suas atitudes me intrigam.
Os dois que vivem na cozinha formam um casal, ao menos foi o que me disse o senhor da Cobasi. Mostram sinais de afeto, trocam carinhos, um coça a cabeça do outro. É engraçado, até humano, como gosto de interpretar, de imaginar.
Olhar o branquinho na fase terminal me sensibiliza. É, olhar uma ave morrendo me sensibiliza. Mas olhar um morto-vivo dormindo na calçada me sensibiliza menos que o pássaro. Mas enfim, isso daria outro post...
O passáro se dirige para o canto da gaiola, se encolhe na aresta do cubo que o "acolheu" a vida inteira. Já sabe o que está por vir. Esboça um último suspiro, suas pernas já fraquejaram há tempos. Aos poucos vai deitando. O vai-e-vem de suas penas cessa.
Morreu.
O outro passarinho parece desolado, olha fixamente para o nada. Amanhã vai estar melhor. Cantando e cagando novamente.
Sem mais uma palavra, retiro o corpo da falecida. É hora de tomar banho e dormir, amanhã tem aula. A vida continua, ao menos para alguns.
Que será que pensam os passáros ? Seu comportamento parece normal. Cantam e berram o tempo todo, esbravejando suas indignações para com a repressão da gaiola. Fora isso, comem grãos em significativa quantidade e cagam em outra ainda maior, forçando-me a trocar o jornal com certa frequência.
Não sei se conversam, nao sei se estão coçando a garganta. Suas atitudes me intrigam.
Os dois que vivem na cozinha formam um casal, ao menos foi o que me disse o senhor da Cobasi. Mostram sinais de afeto, trocam carinhos, um coça a cabeça do outro. É engraçado, até humano, como gosto de interpretar, de imaginar.
Olhar o branquinho na fase terminal me sensibiliza. É, olhar uma ave morrendo me sensibiliza. Mas olhar um morto-vivo dormindo na calçada me sensibiliza menos que o pássaro. Mas enfim, isso daria outro post...
O passáro se dirige para o canto da gaiola, se encolhe na aresta do cubo que o "acolheu" a vida inteira. Já sabe o que está por vir. Esboça um último suspiro, suas pernas já fraquejaram há tempos. Aos poucos vai deitando. O vai-e-vem de suas penas cessa.
Morreu.
O outro passarinho parece desolado, olha fixamente para o nada. Amanhã vai estar melhor. Cantando e cagando novamente.
Sem mais uma palavra, retiro o corpo da falecida. É hora de tomar banho e dormir, amanhã tem aula. A vida continua, ao menos para alguns.
quinta-feira, 4 de setembro de 2008
Quanto vale uma vida ?
Hoje, em meio a goles de um expresso aromático e encorpado, conversava com meus colegas do inglês. Perguntaram-me do que se tratava os arranhões na minha testa.
Respondi muito sinceramente que havia sido atingido por um tijolo. Reações enérgicas e de espanto, como era de se esperar. Aliás, ser atingido por tijolos no rosto soa mais como um roteiro de filmes da estirpe de "Premonição". É, no mínimo, tosco.
Pois bem. A conversa foi se desenrolando, até o ponto em que relatávamos histórias de conhecidos que quase morreram. O assunto seguinte foi "mortes bestas" (termo, por sinal, bastante sarcástico). Algo como escorregar enquanto se lava o banheiro, bater e cabeça e um abraço. Ou como brincar de ninja em cima de um muro e... outro abraço. Chegamos à conclusão de que a vida é frágil.
Fisicamente falando ela é realmente frágil, basta um órgão do corpo parar para que a vida biológica se esvaia. Muito simples. Mas do ponto de vista social, ela é muito mais frágil e muito mais maléfica se for tirada, e seu poder de influência sobre outras vidas é ainda maior.
Meu ego não falha. Não ando pelas ruas pensando se vou ser ou não atropelado, ou sequestrado, ou assaltado sob a mira de uma arma. Realizo minhas atividades cotidianas convicto de que vou acordar no dia seguinte, dar bom dia aos meus pais e tomar o primeiro café do dia.
Mas ao tomar uma tijolada na cabeça, pensar "Ahhh, se eu estivesse mais pra esquerda..." se torna inevitável. Os ses surgem do nada, invadindo todas as minhas percepções do que faço diariamente.
Somos surpreendidos pelo acaso todos os dias, a todo instante. Um passo em falso pode significar um dente quebrado. Uma diferença de centímetros na minha posição determinou alguns arranhões, e não pontos no meio da cabeça.
E essa reflexão me trouxe outra: quanto vale uma vida ?
Levamos anos para construir amizades, paixões, para alcançar metas, para traçar objetivos. Todos os momentos se unem numa longa vida, que pode desaparecer num piscar de olhos, sem dar satisfação nem pra onde vai nem de quando vai voltar.
Basta a um homem apertar um botão e lá se vão milhares de vidas. Vira estatística crua. Morre gente a todo instante. Nasce gente a todo momento. Às centenas, aos milhares, ou ainda às centenas de milhares. Milhões são miseráveis famintos e se vivem ou não é algo realmente questionável.
Nossa passagem por aqui é, ao mesmo tempo, efêmera e demorada. E pode passar despercebida, tanto pelo eu como pelo outro.
Atribuir valor a algo tão vago e multifacetado como é o conceito de vida é bastante complexo, principalmente vindo de um pretenso economista. Mas, independente do que seja o valor, somente espero dá-lo em generosas doses à minha vida, ao menos até uma possível próxima tijolada.
Respondi muito sinceramente que havia sido atingido por um tijolo. Reações enérgicas e de espanto, como era de se esperar. Aliás, ser atingido por tijolos no rosto soa mais como um roteiro de filmes da estirpe de "Premonição". É, no mínimo, tosco.
Pois bem. A conversa foi se desenrolando, até o ponto em que relatávamos histórias de conhecidos que quase morreram. O assunto seguinte foi "mortes bestas" (termo, por sinal, bastante sarcástico). Algo como escorregar enquanto se lava o banheiro, bater e cabeça e um abraço. Ou como brincar de ninja em cima de um muro e... outro abraço. Chegamos à conclusão de que a vida é frágil.
Fisicamente falando ela é realmente frágil, basta um órgão do corpo parar para que a vida biológica se esvaia. Muito simples. Mas do ponto de vista social, ela é muito mais frágil e muito mais maléfica se for tirada, e seu poder de influência sobre outras vidas é ainda maior.
Meu ego não falha. Não ando pelas ruas pensando se vou ser ou não atropelado, ou sequestrado, ou assaltado sob a mira de uma arma. Realizo minhas atividades cotidianas convicto de que vou acordar no dia seguinte, dar bom dia aos meus pais e tomar o primeiro café do dia.
Mas ao tomar uma tijolada na cabeça, pensar "Ahhh, se eu estivesse mais pra esquerda..." se torna inevitável. Os ses surgem do nada, invadindo todas as minhas percepções do que faço diariamente.
Somos surpreendidos pelo acaso todos os dias, a todo instante. Um passo em falso pode significar um dente quebrado. Uma diferença de centímetros na minha posição determinou alguns arranhões, e não pontos no meio da cabeça.
E essa reflexão me trouxe outra: quanto vale uma vida ?
Levamos anos para construir amizades, paixões, para alcançar metas, para traçar objetivos. Todos os momentos se unem numa longa vida, que pode desaparecer num piscar de olhos, sem dar satisfação nem pra onde vai nem de quando vai voltar.
Basta a um homem apertar um botão e lá se vão milhares de vidas. Vira estatística crua. Morre gente a todo instante. Nasce gente a todo momento. Às centenas, aos milhares, ou ainda às centenas de milhares. Milhões são miseráveis famintos e se vivem ou não é algo realmente questionável.
Nossa passagem por aqui é, ao mesmo tempo, efêmera e demorada. E pode passar despercebida, tanto pelo eu como pelo outro.
Atribuir valor a algo tão vago e multifacetado como é o conceito de vida é bastante complexo, principalmente vindo de um pretenso economista. Mas, independente do que seja o valor, somente espero dá-lo em generosas doses à minha vida, ao menos até uma possível próxima tijolada.
terça-feira, 2 de setembro de 2008
"O espetáculo está em toda parte"
"A alienação do espectador em proveito do objeto contemplado (que é resultado da sua própria atividade inconsciente) exprime-se assim: quanto mais ele contempla, menos vive; quanto mais aceita reconhecer-se nas imagens dominantes da necessidade, menos ele compreende a sua própria existência e o seu próprio desejo.
A exterioridade do espetáculo em relação ao homem que age aparece nisto, os seus próprios gestos já não são seus, mas de um outro que lhos apresenta.
Eis porque o espectador não se sente em casa em parte alguma, porque o espetáculo está em toda parte"
Assim diz Guy Debord, na trigésima tese de sua obra, "A Sociedade do Espetáculo".
Arriscarrei uma reflexão diante das palavras do escritor francês, tomando minha própria experiência como objeto.
Esses dias parei para pensar no quanto eu sou eu mesmo. Soa vago e infantil, meio que uma digressão oriunda de uma crise existencial como outra qualquer. Mas não. Não se trata de crise.
As palavras de Debord me chamam a atenção para dois aspectos: a contemplação e o espetáculo. Ambos, ao meu ver, se completam, coexistem.
Se eu me perguntar o que quero da minha vida, vou responder que quero viver bem, viver bem materialmente. Pensando dessa forma, a linha faz todo sentido, tudo se encaixa:
Colégio bom --> Faculdade boa --> Emprego bom --> Salário bom --> Necessidades materiais atendidas --> Velhice endinheirada --> Caixão de veludo
(Claro, todo esse materialismo está inserido numa rede social. Embora seja construída em função da finalidade última, é, não obstante, uma rede social.)
Fiz a experiência de, durante corriqueiras conversas, ouvir atentamente porque a maioria dos meus colegas de faculdade fazem o curso que estão fazendo. A resposta é quase sempre a mesma. "Quero ficar rico". Já começa a me parecer uma questão cultural. Mas se olharmos para o que nos rodeia, no que concerne à construção prática de vida, vamos perceber que tudo está condicionado ao materialismo. A infraestrutura de Marx se afirma. Consumo transmuta-se em poder. O consumista se torna o alvo da contemplação, a expressão do espetáculo, o auge do ator social.
O grosso da sociedade ocidental (se é que já podemos excluir os orientais disto) quer ser como ele. Eu quero ser como ele. Comprar, comprar. E contemplar o espetáculo, me tornar o espetáculo. Na TV tudo fica muito mais claro. O Sistema legitima o espetáculo, a contemplação, torna-o parte da vida cotidiana. E não estou falando de capitalismo, trata-se de algo muito mais além, que falho em identificar.
Não quero ser Gabriel, quero ser Richard Gere, Cazuza, Daniel Craig, Rodrigo Santoro, Mingus, Hendrix, o barman, o presidente, o carinha da propaganda... Tudo menos Gabriel, Gabriel é muito sem graça.
Mas quem é Gabriel ? Pego emprestado as palavras de Debord: cada vez mais compreendo menos a minha existência e o meu próprio desejo. Me perco totalmente na espiral do que sou, do que quero ser e do como quero ser.
quinta-feira, 24 de julho de 2008
Ah...férias
Esse ano resolvi aproveitar bem minhas férias. Mas nunca elas me pareceram tão....férias.
Talvez seja em razão das nefastas lembranças do ano de cursinho, talvez seja em razão de eu não estar fazendo nada, absolutamente nada. Passo os dias em estado de hibernação, fazendo frequentes paradas na cozinha, procurando cereais em caixas vazias. Minhas noites são regadas a Trakinas de chocolate (convenhamos, a de morango é, no mínimo, abominável) e copos de leite. Já consigo sentir a pele da minha barriga trocar contatos quando sento.
O relógio é preciso, nunca falha. Acordo sempre na mesma metade do dia, degluto o primeiro aperitivo à vista na geladeira e parto para o sofá para assistir ao majestoso canal Globo News. É muita cretinice de minha parte assistir a um canal de notícias durante as férias, mas é a isso que venho me propondo.
Mas, vá lá, é ano de Olimpíadas, temos muitas matérias sobre a China. Muito se fala também sobre a inflação, sobre o caso de Ingrid Betancourt, sobre a Operação Satiagraha, entre outros. Mas o relógio é preciso, nunca falha. Tarde da noite venho acessar o Orkut, esperando qualquer scrap desavisado, que me trouxesse alguma coisa boa. Leio qualquer coisa e vou dormir, para na manhã - ou melhor, tarde- seguinte repetir a rotina homeresca.
Sei de todos os fatos expostos pelos jornais. Mas tenho a infelicidade de concluir que eles não significam absolutamente nada para mim. Parece que o ócio drena o meu senso crítico, me reduzindo à um monte de carne que se mexe. Se ao menos esse ócio fosse critivo! Planejava praticar esportes (embora seja uma negação em quase todos eles), ver filmes diferentes, concertos, comer comida tailandesa. Bobagem. A vida é feita de frustrações.
Mas as coisas parecem mudar de figura com a aproximação do fim do mês. Já consigo sair de casa, rever amigos, me sentir vivo de novo. As futuras matérias da faculdade já acenam para mim. Volto a assistir aos seriados de comédias cotidianas, aos filmes diferentes...
Os preceitos calvinistas tomaram conta de mim. Estou apegado à produção, repudiando o ócio, apesar de desejá-lo avidamente. O durante é prazeroso, mas o depois é frustrante (perdoem a colocação ambígua. Aproveito também para dizer que a frase é válida, para a minha pessoa, somente no caso do ócio e não no outro processo implícito).
Seria a rotina a raiz da frustração ? Fato é que algumas rotinas são melhores que outras.
Bom final de férias. Lembrem-se que elas estão acabando, evitem o ócio por muito tempo.
Talvez seja em razão das nefastas lembranças do ano de cursinho, talvez seja em razão de eu não estar fazendo nada, absolutamente nada. Passo os dias em estado de hibernação, fazendo frequentes paradas na cozinha, procurando cereais em caixas vazias. Minhas noites são regadas a Trakinas de chocolate (convenhamos, a de morango é, no mínimo, abominável) e copos de leite. Já consigo sentir a pele da minha barriga trocar contatos quando sento.
O relógio é preciso, nunca falha. Acordo sempre na mesma metade do dia, degluto o primeiro aperitivo à vista na geladeira e parto para o sofá para assistir ao majestoso canal Globo News. É muita cretinice de minha parte assistir a um canal de notícias durante as férias, mas é a isso que venho me propondo.
Mas, vá lá, é ano de Olimpíadas, temos muitas matérias sobre a China. Muito se fala também sobre a inflação, sobre o caso de Ingrid Betancourt, sobre a Operação Satiagraha, entre outros. Mas o relógio é preciso, nunca falha. Tarde da noite venho acessar o Orkut, esperando qualquer scrap desavisado, que me trouxesse alguma coisa boa. Leio qualquer coisa e vou dormir, para na manhã - ou melhor, tarde- seguinte repetir a rotina homeresca.
Sei de todos os fatos expostos pelos jornais. Mas tenho a infelicidade de concluir que eles não significam absolutamente nada para mim. Parece que o ócio drena o meu senso crítico, me reduzindo à um monte de carne que se mexe. Se ao menos esse ócio fosse critivo! Planejava praticar esportes (embora seja uma negação em quase todos eles), ver filmes diferentes, concertos, comer comida tailandesa. Bobagem. A vida é feita de frustrações.
Mas as coisas parecem mudar de figura com a aproximação do fim do mês. Já consigo sair de casa, rever amigos, me sentir vivo de novo. As futuras matérias da faculdade já acenam para mim. Volto a assistir aos seriados de comédias cotidianas, aos filmes diferentes...
Os preceitos calvinistas tomaram conta de mim. Estou apegado à produção, repudiando o ócio, apesar de desejá-lo avidamente. O durante é prazeroso, mas o depois é frustrante (perdoem a colocação ambígua. Aproveito também para dizer que a frase é válida, para a minha pessoa, somente no caso do ócio e não no outro processo implícito).
Seria a rotina a raiz da frustração ? Fato é que algumas rotinas são melhores que outras.
Bom final de férias. Lembrem-se que elas estão acabando, evitem o ócio por muito tempo.
quarta-feira, 25 de junho de 2008
Monólogos
Ah...Nada como sentar num banquinho ensolarado depois de uma refeição (demasiadamente) farta. Gostoso também observar a fila quilométrica dos que aguardam sua vez, com suas expressões particulares e suas roupas esquisitas. Marcou-me muito um indivíduo que permanecia junto à multidão ordenada: era magro, barbudo, meio sujo, o chinelo era ralo. Coitado. Mantinha sempre a mesma expressão meio blasé.
O vento batia no rosto, entrava por entre a camiseta de manga comprida, refrescando minhas axilas; pobre delas, vivem sempre sufocadas, atordoadas por doses cavalares de desodorante. O cachorro tomando Sol despreocupadamente à minha frente me intrigava, trocávamos olhares disfarçados. Tentei um diálogo, gesticulando com a face. Nada feito, o cachorro nem se movia. Restava oferecer um alimento, tentei com o resto do lanche do intervalo horas atrás. Lombo canadense com queijo branco, se não me falta a memória. Finalmente consigo a atenção do animal, que, como já era de se esperar, separa o lombo canadense do pão integral com maestria e degusta o pedaço frio de carne embutida. Esboçava algo como um sorriso. Bobagem, era somente um pedaço de lombo por entre os dentes tortos. Feita a refeição muda-se para outra área, possivelmente para repetir o ritual.
Me demorei por mais alguns minutos, observando os transeuntes. Eis que reaparece o sujeito blasé, magro, barbudo, meio sujo, chinelo ralo. Desta vez parecia revigorado, descia a rampa com o copo de suco na mão, sorrindo. Por certo almoçara muito bem, pois o cardápio do dia contemplava arroz, feijão, lagarto ao molho madeira, batatas coradas, almeirão, pãezinhos e uma refrescante gelatina de limão.
Talvez aquele tenha sido o momento mais aguardado do dia para o sujeito blasé, magro, barbudo, meio sujo, chinelo ralo. O momento em que ele entrega o tíquete, passa na catraca, pega uma bandeja, deseja bom dia aos funcionários, agradece pelas generosas porções de alimento, senta e come com dignidade, na mesma mesa que um aluno de engenharia, um professor de anatomia, um esportista. O momento em que ele vive como todo nós, com todos nós, ao menos durante os efêmeros minutos de um almoço.
Viva o bandejão.
O vento batia no rosto, entrava por entre a camiseta de manga comprida, refrescando minhas axilas; pobre delas, vivem sempre sufocadas, atordoadas por doses cavalares de desodorante. O cachorro tomando Sol despreocupadamente à minha frente me intrigava, trocávamos olhares disfarçados. Tentei um diálogo, gesticulando com a face. Nada feito, o cachorro nem se movia. Restava oferecer um alimento, tentei com o resto do lanche do intervalo horas atrás. Lombo canadense com queijo branco, se não me falta a memória. Finalmente consigo a atenção do animal, que, como já era de se esperar, separa o lombo canadense do pão integral com maestria e degusta o pedaço frio de carne embutida. Esboçava algo como um sorriso. Bobagem, era somente um pedaço de lombo por entre os dentes tortos. Feita a refeição muda-se para outra área, possivelmente para repetir o ritual.
Me demorei por mais alguns minutos, observando os transeuntes. Eis que reaparece o sujeito blasé, magro, barbudo, meio sujo, chinelo ralo. Desta vez parecia revigorado, descia a rampa com o copo de suco na mão, sorrindo. Por certo almoçara muito bem, pois o cardápio do dia contemplava arroz, feijão, lagarto ao molho madeira, batatas coradas, almeirão, pãezinhos e uma refrescante gelatina de limão.
Talvez aquele tenha sido o momento mais aguardado do dia para o sujeito blasé, magro, barbudo, meio sujo, chinelo ralo. O momento em que ele entrega o tíquete, passa na catraca, pega uma bandeja, deseja bom dia aos funcionários, agradece pelas generosas porções de alimento, senta e come com dignidade, na mesma mesa que um aluno de engenharia, um professor de anatomia, um esportista. O momento em que ele vive como todo nós, com todos nós, ao menos durante os efêmeros minutos de um almoço.
Viva o bandejão.
segunda-feira, 26 de maio de 2008
Impressões de uma noite na balada
Por fora o lugar parecia feio, constava apenas o letreiro eletrônico indicando o andamento da festa. A fachada era crua e preta, o que, creio eu, deve-se à recente legislação promulgada na cidade de São Paulo. Nada como a iluminação pra dar outros ares ao ambiente interno, visto que a arquitetura do lugar era bastante simples (exceção feita ao mezanino, oportunidade perfeita para algum ato desesperado).
Pego o primeiro drinque. O whisky com energético estaria bom, não fosse o exagero de gelo que era colocado. Custo a acabar a bebida, que, por sua vez, não cumpriu o papel que cabe a qualquer bebida numa casa cheia de adolescentes dispostos a fazer aquilo que dizem fazer o tempo todo.
Decido dar um tempo para beber outra coisa. É humilhante dizer mas o divertimento fica dependente de umas doses de álcool. Os amigos que chegaram comigo já não se encontravam mais em minha companhia, me vi só num mar de gente.
Uma coisa interessante de baladas remete a esse aspecto. Talvez minta, mas creio que passo metade da balada andando por entre as pessoas. E ando por vários motivos: por não ter outra coisa pra fazer; por esperar alguma garota na mesma situação; para ir ao banheiro; para encontrar algum amigo (que muitas vezes finge que não te vê e logo se esquiva evitando uma abordagem direta). Quando finalmente encontro alguém fico balançando meu corpo em movimentos toscos, ora olhando pra pessoa, ora bebericando o ar no meu copo vazio. A solidão é então inevitável, como se o tempo não passasse. Para fingir ação, comento que vou ao bar providenciar alguma bebida.
As baladas “comuns” são nada mais que uma tentativa de preencher expectativas minhas para com uma vida mais “viva”. Tentar conhecer pessoas que sempre tive vontade de conhecer, me aproximar daquela garota, ficar alegre e esquecer dos problemas... Todas as oportunidades estão lá. Seja lá por que razão, nenhum dos objetivos predefinidos é alcançado. O que de fato acontece é que fico cansado, frustrado e sujo.
Apesar de tudo o que disse acima, continuo a frequentar as baladas. Não consigo me livrar delas, a expectativa sempre supera a razão. Ao menos tenho a música, que, sempre em volumes estratosféricos, me inebria corpo e alma. Mas resigno-me, talvez no fundo eu goste de toda essa situação.
Concordo com uma amiga (por quem aliás nutro sentimentos de caráter mais íntimo e que me fez voltar pra casa contente na manhã seguinte, pelo simples fato de poder conversar com ela no caminho de volta desse mesmo evento que aqui relatado) que diz que prefere bares a baladas. Trata-se, mais uma vez, de uma questão de opinião. Ou talvez algo mais...
Pego o primeiro drinque. O whisky com energético estaria bom, não fosse o exagero de gelo que era colocado. Custo a acabar a bebida, que, por sua vez, não cumpriu o papel que cabe a qualquer bebida numa casa cheia de adolescentes dispostos a fazer aquilo que dizem fazer o tempo todo.
Decido dar um tempo para beber outra coisa. É humilhante dizer mas o divertimento fica dependente de umas doses de álcool. Os amigos que chegaram comigo já não se encontravam mais em minha companhia, me vi só num mar de gente.
Uma coisa interessante de baladas remete a esse aspecto. Talvez minta, mas creio que passo metade da balada andando por entre as pessoas. E ando por vários motivos: por não ter outra coisa pra fazer; por esperar alguma garota na mesma situação; para ir ao banheiro; para encontrar algum amigo (que muitas vezes finge que não te vê e logo se esquiva evitando uma abordagem direta). Quando finalmente encontro alguém fico balançando meu corpo em movimentos toscos, ora olhando pra pessoa, ora bebericando o ar no meu copo vazio. A solidão é então inevitável, como se o tempo não passasse. Para fingir ação, comento que vou ao bar providenciar alguma bebida.
As baladas “comuns” são nada mais que uma tentativa de preencher expectativas minhas para com uma vida mais “viva”. Tentar conhecer pessoas que sempre tive vontade de conhecer, me aproximar daquela garota, ficar alegre e esquecer dos problemas... Todas as oportunidades estão lá. Seja lá por que razão, nenhum dos objetivos predefinidos é alcançado. O que de fato acontece é que fico cansado, frustrado e sujo.
Apesar de tudo o que disse acima, continuo a frequentar as baladas. Não consigo me livrar delas, a expectativa sempre supera a razão. Ao menos tenho a música, que, sempre em volumes estratosféricos, me inebria corpo e alma. Mas resigno-me, talvez no fundo eu goste de toda essa situação.
Concordo com uma amiga (por quem aliás nutro sentimentos de caráter mais íntimo e que me fez voltar pra casa contente na manhã seguinte, pelo simples fato de poder conversar com ela no caminho de volta desse mesmo evento que aqui relatado) que diz que prefere bares a baladas. Trata-se, mais uma vez, de uma questão de opinião. Ou talvez algo mais...
quarta-feira, 21 de maio de 2008
Top Ten George W. Bush Moments
É interessante a maneira como lidamos com uma figura pública, principalmente quando se trata de homems que exercem a política como profissão. Comumente chamados de pilantras, mentirosos, corruptos e outros tantos mais, os políticos são de vital importância para a sociedade e para a democracia, mas são muitas vezes tratados de maneira preconceituosa (inclusive por mim). Não há aqui qualquer intenção de defender essa classe de indivíduos, fiz apenas uma constatação.
No caso do presidente norte-americano, há algumas peculiaridades. Talvez em razão de sua política externa é mal visto pela maioria da população mundial. Talvez em função de sua origem interiorana é alvo de deboche e piadas.
Como hoje é véspera de feriado prolongado, vamos exercitar o riso.
Seria interessante fazer algo parecido no Brasil. "Top 500 Lula Moments"...
No caso do presidente norte-americano, há algumas peculiaridades. Talvez em razão de sua política externa é mal visto pela maioria da população mundial. Talvez em função de sua origem interiorana é alvo de deboche e piadas.
Como hoje é véspera de feriado prolongado, vamos exercitar o riso.
Seria interessante fazer algo parecido no Brasil. "Top 500 Lula Moments"...
Há tempos que tinha a intenção de montar um blog, para que finalidade exata não sei. Talvez seja por pura inveja de outros blogs. Talvez por não ter nada mais interessante pra fazer na internet.
Já me disseram que blogs inteligentes (ou que almejam ser, como este) são um algo a mais no mercado de trabalho. Provavelmente o entrevistador já está cansado dos modelitos produzidos nas universidades e quer agora saber o que fazemos nas tardes de domingo.O mundo parece estar mudando, embora tudo esteja igual.
Espero que o blog sirva pelo menos de passatempo para algum leitor despreocupado, passando por aí, pelas janelas que os links abrem.
Já me disseram que blogs inteligentes (ou que almejam ser, como este) são um algo a mais no mercado de trabalho. Provavelmente o entrevistador já está cansado dos modelitos produzidos nas universidades e quer agora saber o que fazemos nas tardes de domingo.O mundo parece estar mudando, embora tudo esteja igual.
Espero que o blog sirva pelo menos de passatempo para algum leitor despreocupado, passando por aí, pelas janelas que os links abrem.
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